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Artigo
PROFESSOR E CULTURA DIGITAL: NOVOS DESAFIOS PARA SUA AÇÃO FORMAÇÃO
1. Resumo
O texto apresenta resultados parciais da investigação que pretende identificar os desafios postos à ação/formação do professor frente a sua inserção na cultura digital. Para tanto, recorreu-se à análise de referências bibliográficas sobre os temas: formação de professores, tecnologias da informação e comunicação (TIC), cultura digital, educação a distância, pesquisa-ação. Também foram realizados mapeamentos das experiências de formação de professores realizadas na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em termos de características institucionais, pedagógicas e políticas. Mais especificamente, vem sendo acompanhada a experiência do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência da Ufba – Pibid, que promove a articulação entre universidade e a rede de educação básica da Bahia, através da atuação de licenciandos nas áreas de Matemática, Física e Química, analisando a integração de suas atividades através do uso da internet.
Palavras-chave: formação de professor, cultura digital, tecnologia da informação e comunicação.
2. Introdução
A pesquisa realizada tem foco na análise dos desafios postos à prática dos professores da Educação Básica em formação pelo uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) em paralelo às mudanças culturais potencializadas pela sua presença na sociedade. Foram mapeados os problemas e políticas de sustentação para a inserção destes sujeitos na cultura digital, a partir da experiência dos cursos de licenciatura da UFBA. Assim, a investigação partiu da identificação das novas práticas, saberes, costumes, necessidades e interesses dos sujeitos em um contexto cultural marcado pela presença das tecnologias e pode indicar elementos significativos para o desenvolvimento do processo de formação de professores no país.
3. O direito a uma formação plena
Em todo o país há uma expansão significativa da formação universitária de professores, em especial de cursos de que utilizam tecnologias ou até são realizados a distância. Isso justifica a realização de uma pesquisa que vise atender a necessidade de reflexão sobre modos de concepção de ensino-aprendizagem. O que ainda não sabemos é se teremos a abertura de novas perspectivas para a função social da universidade (SANTOS, 2005), sua relação com a Educação Básica.
Com o uso das TIC surge uma oportunidade de inovar a prática pedagógica, mobilizar os sujeitos envolvidos para a construção coletiva de um projeto político de formação. Certamente, estarão acima de tudo provocando novas necessidades e mobilizando seus saberes. Sendo co-autores desse projeto, é fundamental que os professores explorem a aproximação com o uso das TIC, compreendendo que estas são muito mais que um modo de operacionalizar, posto que cria condições para a sua participação ativa no universo da cultura digital.
É nesse contexto cultural que emerge um conjunto de novas práticas, saberes, costumes, valores estão sendo reorientados e reinventados. Estes, também presentes na educação, potencializam a reflexão e ação coletiva do professor para a transformação social. Nos denominamos como agentes de sua cultura digital.
Os professores têm vivenciado novas formas de conceber, produzir e utilizar as TIC para planejar, desenvolver e avaliar a sua prática pedagógica e orientar a sua formação. Ao longo do trabalho buscamos analisar os sentidos construídos sobre essa prática e o que a condiciona permitirá uma compreensão mais complexa dessa nova realidade do trabalho no interior da universidade, potencializando-a. Compreender essa experiência e as novas relações que ela engendra é uma necessidade dos tempos atuais, o que inclui o desafio de que os professores estejam integrados, cada dia mais, em redes de ação/formação, potencializando o processo de ensino e aprendizagem para construir uma formação ampliada de outros sujeitos.
As mudanças culturais promovidas pela presença das TIC no processo de formação universitária dos professores serão observadas e caracterizadas através da aplicação de um questionário antes e após intervenções realizada junto aos sujeitos da pesquisa. Tais intervenções se constituem na inserção do professor pesquisado na cultura digital, além do favorecimento da tomada de consciência dos professores levando-os a compreender a própria prática e a transformá-la em prol de seu desenvolvimento pessoal e profissional.
É indispensável lançar o nosso olhar crítico e propositivo sobre esse movimento. Através dessa tarefa teremos subsídios para desenvolver processos na universidade que possa colaborar com a superação dos problemas enfrentados pela educação. De modo mais amplo, também será possível atender ao imperativo de garantir que os professores vivenciem um processo de formação plena e autônoma (TEIXEIRA, 1966).
4. Trilhando a estrada da pesquisa na educação
A investigação foi orientada pelos princípios da pesquisa-ação. Essa abordagem qualitativa funciona como "um dispositivo de intervenção que deve afirmar-se como um ato político, uma proposta de atuação transformadora, propondo uma intervenção de ordem micropolítica na experiência social." (MACHADO, , s. p.). A pesquisa-ação consiste em "resolver ou pelo menos esclarecer os problemas da situação observada" (THIOLLENT, 2006), este último, refere-se a uma pesquisa-ação de diagnóstico, na qual pesquisadores em contato com a situação existente estabelecem o diagnóstico e recomendam medidas para sanar o problema.
Tomamos como campo investigativo os colégios públicos envolvidos no Programa de Iniciação à Docência da Ufba - Pibid: Colégio Estadual da Bahia (CENTRAL), localizado na Praça Carneiro Ribeiro no bairro de Nazaré; Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes, local: Rua Araújo Pinho, Canela; Colégio Estadual Viana Filho, localidade: Rua Waldemar Falcão, Brotas; Colégio Estadual Manoel Devoto, Rua Oswaldo Cruz, Rio Vermelho e o Colégio Estadual Odorico Tavares, localizado na Avenida Sete de Setembro no bairro da Vitória.
O programa tem como principais objetivos incentivar a formação de professores para a educação básica na Bahia, especialmente para o ensino médio e nas áreas de ciências e matemática; valorizar a licenciatura, incentivando os estudantes que optam pela carreira docente; promover a melhoria da qualidade da educação básica, contribuindo com a formação continuada dos docentes das escolas da rede pública do Estado da Bahia; promover a articulação integrada da educação superior do sistema federal com a educação básica do sistema público, em proveito de uma sólida formação docente inicial; fomentar experiências metodológicas e práticas docentes de caráter inovador, que utilizem recursos de tecnologias da informação e da comunicação para a integração dos saberes em rede, preparação dos materiais didáticos e atividades de laboratório.
Os sujeitos da pesquisa serão identificados entre os participantes do Programa: estudantes dos cursos de licenciatura em Matemática, Física e Química envolvidos no programa, além dos professores selecionados para acompanhar esses estudantes nas atividades a serem realizadas. Estes sujeitos deverão contribuir respondendo a um questionário que procura investigar o modo como os professores, ao longo das oportunidades de formação, se relacionam com a cultura digital, o que estará evidenciado no uso dado às TIC, na dinâmica de interação mediada por essas tecnologias, nas condições de acesso e produção de informação disponíveis e nos novos interesses desses sujeitos. A realização do questionário buscará, portanto, evidências sobre os significados produzidos pelos sujeitos para a experiência de formação e uso das TIC, considerando o seu grau de imersão no universo da cultura digital.
O questionário será veiculado antes e após o desenvolvimento de um conjunto de atividades pelos licenciandos. Essa técnica está associada a um processo intencional de intervenções que se constituem na inserção do pesquisador no contexto da cultura digital. A idéia é de que, com a pesquisa, haja um favorecimento da tomada de consciência dos licenciandos levando-os a compreender a própria prática e a transformá-la em prol de seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Com isso a pesquisa investiga uma problemática pertinente ao momento contemporâneo de educação. Ao mesmo tempo instiga o futuro professor a um processo de construção de sua autonomia, através da valorização de sua interdependência. No futuro, para incitar seus educandos a aprender e ter autonomia diante das informações pertinentes a sua ação.
A segunda etapa do questionário deverá constar os resultados obtidos com tais intervenções. As intervenções serão buscadas a partir do contato com os pesquisados através da página virtual do programa que encontra-se em construção.
Está sendo realizado um levantamento bibliográfico sobre os assuntos abordados na pesquisa, identificando trabalhos científicos e publicações que tenham resultado de análises sobre o uso das TIC na formação de professores, bem como a identificação de políticas internas e externas à universidade para essa área e seu grau de convergência e transformação da realidade da escola pública para a formação de redes permanentes de ação/formação de professores.
5. Resultados/Conclusões
A partir dos estudos realizados, inclusive junto ao grupo de estudos dentro do grupo de pesquisa, tive oportunidade de conhecer e inserir-me no debate atual sobre os temas abordados na pesquisa: formação de professores, tecnologias da informação e comunicação (TIC), cultura digital e educação a distância. Pude perceber que as teorias são importantes porque ajudam a descrever e a explicar um determinado fenômeno, identifica o que não conhecemos e que necessitamos investigar. No tocante à educação à distância, estudei o aspecto autonomia dessa modalidade de ensino na visão de conhecidos teóricos sobre educação à distância, o que me possibilitou perceber as distintas concepções de educação que perpassam essa prática.
Rudolf Delling, por exemplo, fala da necessidade de organizar ajudas para que o aluno possa desenvolver a aprendizagem. Um ponto a ressaltar em sua teoria é a questão da autonomia e independência do aluno em detrimento da redução do papel do professor, o que não significa que o aluno terá autonomia, uma vez que o professor estará praticamente ausente não sendo problematizador dentro do processo de aprendizagem. Para ele, o papel do professor é unicamente o de facilitador do processo de aprendizagem, o que também não denota autonomia. Disposição de informações, facilitação do acesso e afins, impedem a autonomia do aluno, colaboração é uma coisa, facilitação é outra. Trabalhar no sentido de promover a autonomia do aluno é gerar "atividades que devem ser feitas de forma cooperativa, os alunos trabalhando em grupo com a interferência provocativa do professor, assim tanto professor como aluno assumem a postura de pesquisador." (WERRI; RUIZ, ).O aluno, para que possa ser autônomo e produtor de conhecimento precisa ser problematizado e instigado à produção, não simplesmente facilitado.
Uma questão que surgiu a partir do propósito da pesquisa foi entender para quê uma formação contínua do professor.
A formação contínua do professor serve para auxiliar a suprir a necessidade de construir uma escola de qualidade, para que estes possam contribuir para a formação de indivíduos críticos, conscientes de seu próprio viver na sociedade. Para tanto, estes professores devem não somente ter a capacidade de se comunicar, mas também devem fazer uso dos meios de comunicação na sua ação/formação. (BETTEGA, 2004, p. 72).
Compreende-se que o professor deve atualizar-se constantemente para a sua prática docente, o que ocorre em sua própria prática, que chamamos de "ação/formação". No que diz respeito ao uso das TIC dentro desse processo de ação/formação, observa-se uma série de obstáculos, tanto no que tange o histórico do sujeito com relação as novas tecnologias, quanto às condições a ele postas em sua prática pedagógica.
Pensando nos desafios postos aos professores em formação no uso das tecnologias de informação e comunicação, é notório que o uso das novas tecnologias como ferramenta possibilita o seu domínio instrumental, mas os propósitos e as condições fundamentais da sua plena integração com a atividade humana também não podem passar despercebidos.
O simples domínio de uma técnica por uma dada pessoa não garante que ela a use com naturalidade, desembaraço e espírito crítico. Para que alguém se torne um utilizador fluente é necessário que sinta a necessidade de escrever textos e sinta um mínimo de confiança em fazê-lo no computador. O uso fluente de uma técnica envolve muito mais do que o seu conhecimento instrumental, envolve uma interiorização das suas possibilidades e uma identificação entre as intenções e desejos dessa pessoa e as potencialidades ao seu dispor. (PONTE, 1999).
Para que os professores em formação sejam inseridos na cultura digital é necessário que estes façam um uso crítico da técnica, há a necessidade de saber como a tecnologia pode servir a sua prática, transformando suas atividades, possibilitando novos modos de interação com seus semelhantes.
Foi realizada uma busca de notícias sobre o Programa Computador Portátil para Professores, que tem como objetivo promover a inclusão digital dos professores em atividade da educação básica, profissional e superior de ensino continuado mediante a compra de computadores portáteis (notebook) e programas de computador (softwares), neles instalados. Como deve ter instalado um software educacional chamado Linux educacional, deve favorecer a metodologia de ensino e o planejamento educacional, além de possibilitar a inclusão digital de professores. O acesso a banda larga também será necessário para que os professores obtenham acesso a rede mundial de internet, sendo que este só será garantido no espaço das escolas, através do programa. De acordo com o programa, "é necessário que o laptop não seja apenas um instrumento de auto-informação, mas uma ferramenta "didático-pedagógica". O computador deve ser inserido como possibilidade de construção do conhecimento." (PFRB, 2009). Observando-se tais propostas, é de se esperar que o programa sirva de apoio à inserção destes professores na cultura tecnológica.
6. Referências
BETTEGA, Maria Helena Silva. Educação continuada na era digital. São Paulo: Cortez,
2004.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
PONTE, João Pedro da. Tecnologias de informação e comunicação na formação de professores: que desafios? Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/800/80002404.pdf. Acesso em: 15 de outubro de 2008.
PRETTO, Nelson de Lucca; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da (org). Além das redes de colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: Edufba, 2008.
TAJRA, Sanmya Feitosa. Informática da Educação: Novas Ferramentas Pedagógicas
para o Professor da Atualidade. 3 ed, São Paulo: Érica, 2001.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 3 ed, Rio de Janeiro: Cortez, 2006. |