Polêmica nova
Reitor da Ufba, Naomar Almeida, gera protestos ao anunciar fim do sistema de cotas a longo prazo
O reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho, afirmou ontem que, com a implantação do projeto Universidade Nova, o sistema de cotas para estudantes de escolas públicas, preferencialmente afrodescendentes e indígenas, deixaria de ser uma necessidade a longo prazo. A declaração foi dada em entrevista coletiva, após uma reunião com reitores e dirigentes de universidades públicas da Bahia, quando foi discutida a possibilidade de um vestibular unificado entre as instituições. Enquanto Naomar conversava com a imprensa, 30 militantes do movimento negro fecharam por 40 minutos o trânsito em frente à Reitoria da Ufba (Canela), protestanto contra o Universidade Nova. Eles atearam fogo a um boneco que representava o reitor, fizeram discursos inflamados tachando Naomar de "traidor e racista".
O reitor considera que, com a ampliação da oferta pelas universidades, não faria mais sentido a existência do sistema de cotas. "No longo prazo, se todos os mecanismos de expansão e inclusão social funcionarem como esperamos, não vamos precisar de reserva de vagas para a Universidade Nova. Ainda assim, até que tenhamos verificado serem desnecesários, defendo que devemos manter sistemas de compensação redistritibutiva (cotas)". Naomar considera um "equívoco e precipitação" por parte de militantes do movimento negro que dizem que ele deseja acabar com o Programa de Ações Afirmativas.
Mais vagas - Antes denominado Ufba Nova, e agora rebatizado por Universidade Nova, o projeto lançado por Naomar, após sua reeleição em setembro, prevê a ampliação do número de vagas, a extinção do vestibular e reestruturação da grade curricular através da criação dos bacharelados interdisciplinares – cursos de formação gerenalista, pelos quais os estudantes passariam nos três primerios anos antes de fazer a escolha profissional. O projeto teve aceitação pelo Ministério da Educação, que pretende implantá-lo em todo o sistema de ensino superior no país. Um modelo parecido já foi adotado pela Universidade Federal do ABC, em seus cursos tecnólogos.
O coordenador do Atitude Quilombola, Válter Altino, afirma que o reitor da Ufba está tramando um "golpe" contra o programa de ações afirmativas. "Nós não aceitamos este argumento de que com o aumento da oferta as cotas seriam desnecessárias. Elas são uma conquista pela inclusão dos negros nas universidades e têm que ser mantidas". Altino liderou, na tarde de ontem, o ato de protesto contra o Universidade Nova.
De posse de um carro de som, e de um boneco que representava Naomar, 30 militantes do movimento negro paralisaram o trânsito em frente à Reitoria. No início do protesto, Naomar tentou, sem muito sucesso, entregar aos manifestantes cópias de um artigo intitulado Ações afirmativas na Universidade Nova. Foi tachado de "traidor". Em seu reitorado, no ano de 2005, as cotas foram aprovadas. Elas destinam 45% das vagas no vestibular da Ufba para estudantes de escolas públicas, majoritalmente para aqueles de etnia negra.
O protesto continuou paralisando o trânsito por cerca de 40 minutos até que o boneco foi inteiramente queimado. Os manifestantes entraram gritando palavras de ordem no ante-sala do gabinete do reitor. Neste momento, tiveram companhia de outros 40 estudantes da Universidade Católica que chegaram ao local. Estes estavam em passeata contra o sistema de matrícula da Ucsal. Os dois grupos saíram juntos em direção ao campus da Ucsal, na Lapa. Presente ao protesto, o sociólogo e militante do movimento negro Kleber Rosa afirma que Naomar tem uma leitura superficial dos programas de ações afirmativas. "Sem garantia de acesso à universidade, não tem razão de falarmos em permanência".