Alunos rejeitam Nova Universidade
Estudantes e uma ala do corpo docente não concordam com a mudança na estrutura de construção do conhecimento na Ufba proposta no Projeto da Nova Universidade.
Eles apontam que o projeto não resolverá os problemas estruturais da instituição e não é capaz de garantir um preparo profissional que atenda à demanda social.
O vice-presidente da União dos Estudantes da Bahia (UEB), Emanuel Balalaica, alega que o projeto da Nova Universidade apresenta alguns equívocos. "Essa mudança pode criar alguns impactos negativos.
Depois de três anos fazendo o BI (bacharelado interdisciplinar) em ciências gerais sem nenhuma especificidade, o aluno vai sair da universidade formado em nada. O texto apresentado não esclarece a questão das cotas. Não podemos mais voltar atrás nesse processo".
Outro ponto ressaltado pela classe estudantil é a passagem do BI para os cursos profissionalizantes ou carreira acadêmica. "Isso vai resultar em um processo seletivo dentro da própria universidade. Ele não garante que vai ter vaga para todo mundo que sair do BI e quiser continuar na universidade. Programas de permanência do aluno na universidade não estão na lista de prioridades do novo formato de ensino".
O projeto da Universidade Nova não corresponde à realidade brasileira, segundo a coordenadora do colegiado de Educação Física da Ufba, Celi Zulke Taffarel. A acadêmica defende três questionamentos sobre o projeto: a formação ampla durante os primeiros anos, o investimento nas instituições e a forma de organização do conteúdo de cada área.
"Nós precisamos qualificar os alunos. Com essa formação generalista, uma pessoa com título de bacharel não poderá trabalhar em nada". A composição do currículo é a principal preocupação da coordenadora.
"O trato do conhecimento de forma variada não é o bastante. Precisamos saber qual o rumo, a matriz científica do processo. Essa liberdade de escolher as disciplinas pode criar um caos na universidade. É preciso deixar tudo muito claro".
A modalidade de ensino que tem o princípio de ampliar convivência entre todas as áreas não é recente. Segundo o reitor da Ufba, Naomar de Almeida Filho, ele chegou a ser aplicado na Universidade do Distrito Federal em 1935 e na UNB em 1961, até 1964 quando o processo foi reprimido na ditadura militar. A referência é de educação superior comparável ao modelo norte-americano e europeu.
No Brasil, já existe uma instituição seguindo os princípios da Nova Universidade. Desde setembro do ano passado a Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo, está colocando em prática as idéias em discussão na Ufba. Lá a primeira fase consiste em um curso básico de ciência e tecnologia com duração de três anos. Durante esse período, um terço das disciplinas são obrigatórias, distribuídas em seis eixos temáticos.
Outro um terço é relativo às optativas e mais outro um terço é de livre escolha do aluno que determina o caminho que deseja seguir.
Foram abertas 1.500 vagas e o ingresso foi realizado por um vestibular na primeira etapa e por outra avaliação (com conteúdo do ensino médio) e uma redação na segunda etapa. "Nas duas etapas, as questões são elaboradas de forma interdisciplinar", explica a pró-reitora de graduação da UFABC, Adelaide Faljoni-Alário.
Ainda sem turma formada, a experiência está dando certo. "Foram 12 mil candidatos e oferecemos 1.500 vagas, sendo que 50% foram destinadas aos cotistas".
GARANTIA – Depois da primeira fase de formação unificada, a pró-reitora garante que a vaga no mercado de trabalho está garantida.
"A mobilidade acadêmica e o maior contato com os professores só traz vantagens. Depois da formação geral, o aluno estará preparado para criar seu próprio negócio ou trabalhar em indústrias, empresas de informática e concluir sua formação no mercado de trabalho".
Outra meta é diminuir a quantidade de especificidades acadêmicas que surgem a todo instante.
"São mais de dois mil cursos existentes no Brasil", observa.