Universidade Nova
Reformar a universidade a partir dela própria e não mais do Estado é o desejo dos reitores que se encontraram na UFRJ, no último dia 24. O objetivo do encontro foi discutir um inovador e ousado projeto: a Universidade Nova, que envolve mudanças na estrutura curricular da universidade brasileira.
A idéia é uma iniciativa de Naomar de Almeida Filho, reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e foi inspirada no pensamento de Anísio Teixeira, que já propunha um modelo semelhante nos idos dos anos 1960. “Queremos uma reforma de verdade, que altere a estrutura curricular, e não apenas o que está sendo discutido no Congresso”, destaca Naomar. De acordo com o professor, a principal alteração é a implantação de Bacharelados Interdisciplinares (BI), possibilitando uma formação universitária geral – como uma pré-graduação que antecederá a formação profissional de graduação e a formação científica ou artística de pós-graduação.
Essa é uma alternativa avançada de estudos superiores que permitirá reunir numa única modalidade de curso de graduação um conjunto de características que hoje vêm sendo requeridas. “Levei a proposta a quase todas as unidades da UFBA e a repercussão tem sido excelente. Essa é uma discussão que já vem sendo travada há dois anos, pelo menos”, revela o reitor.
De acordo com a proposta, na Universidade Nova, uma vez concluído o Bacharelado Interdisciplinar, o estudante poderá enfrentar o mundo do trabalho, com diploma de bacharel em área geral de conhecimento (Artes, Humanidades, Ciências, Tecnologias). Se quiser, poderá seguir os estudos para licenciaturas específicas, para cursos profissionais ou programas de pós-graduação, como o mestrado profissionalizante ou o mestrado acadêmico, podendo prosseguir para o doutorado. Dessa forma, haveria uma desvinculação entre exercício profissional e diploma universitário.
Outra mudança é o fim do vestibular, nos moldes que existe hoje. E isso é uma unanimidade entre os reitores presentes ao encontro. “O vestibular é mais um teste de conhecimentos e o Enem é um exame de potencial e de capacidade, onde a inteligência e a criatividade terão mais oportunidades de se manifestar”, explica Naomar de Almeida.
Outro ponto levantado por ele é que o jovem não precisará escolher tão cedo a carreira a ser cursada. Segundo o projeto, o estudante terá a possibilidade de escolhê-la com mais calma, cursar aulas de cursos variados para, então, optar pela carreira. Presente ao encontro, o presidente da Fiocruz, Paulo Buss, afirmou ter recebido com entusiasmos a proposta. “A mudança na estrutura, ajuda no amadurecimento dos jovens na escolha das carreiras”, aponta Buss.
Para Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ, essa é uma proposta que acena para o caminho que deseja para a universidade. “Já venho falando sobre isso durante as discussões do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). Temos de construir uma universidade nos moldes do mundo de hoje”, ressalta Aloísio Teixeira. Para José Carlos Ferraz Hennemann, reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a idéia é inovadora, mas ainda embrionária. “Hoje se discute apenas a estrutura, mas não se toca na área acadêmica – que é a discussão que queremos travar. Com esse projeto, passaremos a ter outro foco”, analisa o reitor.
Contudo, os reitores acreditam que essa reforma não deva ser mera cópia de modelos
estrangeiros, mas fruto da necessidade brasileira. “Não somos um país mimético, somos capazes de criar nosso próprio modelo”, salienta Alex Bolonha Fiúza de Melo, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), acrescentando que “a Universidade Nova é um fato político de extremo significado. Temos que expandir o Ensino Superior com qualidade”.
Ao final do encontro, os reitores montaram uma minuta de um documento que deverá ser redigido pelo reitor da UFBA, Naomar de Almeida, e entregue a todos os dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). Segundo foi acordado entre o grupo, o documento abordará : a obsolescência da universidade brasileira; os desafios contemporâneos da universidade; a insuficiência da Reforma Universitária; e as propostas da Universidade Nova.
Também estiveram presentes ao encontro, Laura Tavares, pró-reitora de Extensão da UFRJ, Murilo Camargo, pró-reitor de Graduação da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Gabriel Soledade Nacif, reitor da Universidade Federal do Recôncavo Bahiano (UFRB), e Maria do Carmo Leal, vice-presidente de Ensino, Informação e Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).