Governo quer dobrar vagas nas universidades federais em 5 anos
Proposta será apresentada no projeto Universidade Nova. Uma das idéias é o fim do vestibular e a adoção do Enem.
O Governo federal quer dobrar o número de vagas nas universidades públicas federais nos próximos cinco anos, aumentar a reserva de cotas para negros e estudantes de escolas públicas no ensino superior e também pretende substituir o vestibular tradicional pela nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
As propostas integram o projeto Universidade Nova, um pacote de educação que deverá ser anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ministro da educação, Fernando Haddad, nas próximas semanas. As idéias foram apresentadas para os reitores das universidades federais no último dia 8 de fevereiro. A assessoria de imprensa do MEC informou que os dados não seriam divulgados para a imprensa.
Segundo o professor Arquimedes Diógenes Ciloni, vice-presidente em exercício da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o Ministério da Educação (MEC) elaborou uma minuta (espécie de rascunho) elencando os principais pontos a serem mudados no ensino superior nos próximos anos.
Fim do vestibular
Um dos pontos é acabar com o vestibular tradicional e utilizar a nota do Enem como referência. A idéia começou a ser discutida pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) no final do ano passado, mas ainda não entrou em vigor. Pela proposta, os estudantes fariam três anos básicos na universidade, em disciplinas de diversas áreas do conhecimento. Só depois disso é que decidiriam, efetivamente, qual carreira pretendem seguir.
O argumento da UFBA (que deve ser seguido pelo MEC) para propor essa mudança, é que os alunos precisam decidir a carreira muito cedo, aos 17 anos, o que provoca um alto índice de evasão escolar. "Na Federal de Uberlândia por exemplo, a evasão nos cursos de engenharia chega a 40% nos dois primeiros anos de curso", afirmou o reitor da UFU, professor Arquimedes Ciloni.
Mas, segundo Ciloni, a Andifes ainda não tem uma posição bem definida sobre este assunto. "A discussão começou no ano passado com a UFBA, mas ainda está muito crua. A Andifes não tem como se pronunciar", disse. Como reitor da UFU, Ciloni disse ter dúvidas.
"Tenho muitas dúvidas. Eu acho, por exemplo, que vamos terminar com a disputa do vestibular, que ocorre antes da universidade, e vamos transferi-la para dentro da universidade. O aluno vai cursar três anos básicos e as carreiras mais concorridas continuarão sendo disputadas, só que desta vez, internamente", avalia.
O reitor reconhece o mérito da proposta, que quer diminuir a evasão escolar, mas acha que ainda é muito cedo para falar em término do vestibular.
Já o professor Alex Bolonha Fiúza de Mello, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), a maior entidade federal do país em número de graduandos, defende que o Enem deveria ser flexibilizado antes de valer como processo seletivo. "Temos que discutir o modelo do Enem. Ele sendo nacional, pode privilegiar regiões que tenham um ensino médio melhor estabelecido. A UFPA, por exemplo, pode passar a receber diversos estudantes que não são da região e isso seria um problema na medida que a universidade forma a elite intelectual do estado", opina.
Para o reitor da UFPA, uma idéia seria criar exames estaduais com apoio do Governo federal. Ou estabelecer um número mínimo de vagas que seriam ocupadas por pessoas do estado onde fica a instituição.
Mais vagas
Outra medida do projeto Universidade Nova é criar 680 mil novas vagas nas universidades federais até 2012. Hoje, segundo a Andifes, são cerca de 600 mil vagas. "O governo quer mais do que dobrar o número de vagas. A bandeira da expansão é correta, mas como fazer isso sem aumentar o número de professores e de pessoas em cargos técnicos e administrativos? São eles que sustentam uma universidade", diz o vice-presidente da Andifes.
Na opinião de Mello, é preciso avaliar cada caso para saber quais universidades podem aumentar o número de alunos mesmo sem ampliar o quadro de funcionários. "Na UFPA já fizemos uma expansão, com 14 campi no interior, onde temos 30 alunos por professor e o MEC quer 20 por professor. Mas há universidades que têm apenas oito alunos por professor", afirma.
Para Ciloni, antes de criar novos campi ou novas universidades, o Governo federal deveria aumentar o número de vagas em universidades já existentes, que estão com a estrutura pronta. "Além disso, o MEC precisa criar programas de permanência na universidade para os alunos carentes, como auxílio moradia, auxílio transporte e auxílio alimentação", disse.
"Não estamos nos esquivando de discutir. Queremos colaborar com a discussão da Nova Universidade, mas antes precisamos de soluções para os problemas que afligem o conjunto de reitores das federais", finalizou Ciloni.