Reestruturação curricular
Projeto da Universidade Nova promete ampliar o acesso dos estudantes à formação superior e evitar escolha profissional precoce
Uma transformação total e radical do ensino superior público brasileiro, com mudanças na formação, fim do vestibular e ampliação do acesso dos alunos à universidade. Esta é a proposta que vem sendo discutida nos últimos meses por dirigentes de diversas instituições federais, mas que ainda é desconhecida da maior parte dos estudantes. A Universidade Nova, nome pelo qual o projeto vem sendo chamado, propõe mudanças que - se implantadas - serão significativas.
A principal delas é a alteração na formação dos estudantes, que deixariam de entrar diretamente na graduação em cursos específicos para fazer primeiro um Bacharelado Interdisciplinar (BI) em grandes áreas do conhecimento, como cultura humanística e artes. Para os defensores do projeto, a atual formação é bitolada por um viés profissional excessivo.
A discussão ainda é embrionária, mas já desperta polêmica em várias regiões do país. Na próxima semana, representantes de todas as universidades federais participam do 2º Seminário Nacional da Universidade Nova, em Brasília, exatamente para discutir pontos do projeto.
Um dos principais defensores da reestruturação universitária é o reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar de Almeida Filho. "Não temos a pretensão de refazer nem competir com o Projeto de Lei da Reforma Universitária, que está no Congresso Nacional. O que defendemos é uma reestruturação da arquitetura curricular da educação superior no Brasil", explica.
Segundo o reitor, o projeto tem respaldo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, além de sete pareceres do Conselho Nacional da Educação (CNE), já prevendo a formação básica nos BIs e as demais transformações. "Não há impedimento legal", ressalta. "Só falta construir um consenso geral para implantar a Universidade Nova."
MATRÍCULAS Além de acabar com o vestibular, apontado como um exame excludente, a Universidade Nova pretende dobrar o número de matrículas. Isso vai acontecer porque as salas, durante as aulas de formação geral, poderão receber mais estudantes. "A escolha precoce da profissão também vai acabar. O aluno vai optar por uma área geral e, se for vocacionado, poderá, mais maduro e preparado, prosseguir para a carreira profissional", afirma Naomar.
Até agora, a Universidade Nova tem o apoio de diversas instituições, como as universidades de Brasília (UnB) e do Rio de Janeiro (UFRJ). Reitores de outras 11 universidades, como Renato Nunes, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), no Sul de Minas, assinaram um manifesto em que se comprometeram a iniciar o debate sobre as propostas. Em breve, Naomar deve vir à UFMG para apresentar o projeto no Instituto de Ciências Exatas (Icex). "Temos recebido apoio do MEC, por meio da Secretaria de Educação Superior (Sesu), e do próprio ministro Fernando Haddad. No momento, estamos construindo o apoio político da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes)."
No Ministério da Educação (MEC), por enquanto, ninguém se pronuncia sobre o projeto. Segundo a assessoria de imprensa do ministério, as propostas ainda não foram consolidadas e estão apenas em fase inicial. Mesmo assim, é o MEC que patrocina a realização do seminário nacional no dia 30. Na Andifes, ninguém foi encontrado para comentar o assunto. [O Estado de Minas]