Universidade nova
Está certo o pressuposto do projeto que busca atualizar ensino superior no Brasil inibindo a especialização precoce
O SISTEMA universitário brasileiro está diante do desafio de aproximar-se dos modelos vigentes no Primeiro Mundo. À diferença do que ocorre nos países desenvolvidos, permanecem intocados, aqui, o mecanismo de ingresso pelo vestibular e a especialização precoce, que leva jovens a ter de optar por uma profissão com apenas 17 anos.
Dados do Censo da Educação Superior mostram que apenas 51% dos alunos que ingressam anualmente no sistema de ensino superior conseguem, quatro anos depois, obter o diploma. No Japão, por exemplo, são só 7% os que deixam de concluir o curso após esse período.
A evasão, é claro, é um fenômeno multifatorial, para o qual contribuem inclusive problemas sociais. Seria um despropósito, porém, acreditar que ela não esteja vinculada a questões eminentemente acadêmicas.
É oportuna a proposta de reestruturação do reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho. Ele sugere a adoção dos chamados Bacharelados Interdisciplinares (BIs). Ao formar-se no ensino médio, o aluno ingressaria num BI. Não escolheria de saída a profissão que quisesse seguir, mas uma área genérica como ciência, humanidades, artes. Findos três anos, receberia o título de bacharel. Teria a opção de interromper os estudos ou especializar-se, buscando cursos como medicina, direito, engenharia etc. Depois viria a pós-graduação.
São várias as vantagens potenciais desse modelo. Em primeiro lugar, ele retardaria a decisão sobre a carreira para um momento em que o jovem já está mais maduro e informado acerca das características dos vários cursos. Só isso já tenderia a reduzir bastante a evasão universitária.
O BI também estimularia uma formação mais interdisciplinar, num movimento que acompanha a própria evolução das ciências. Fala-se cada vez menos em física, química e biologia e mais em físico-química, biofísica, bioquímica etc.
Tal modelo possibilitaria ainda mudanças nos sistemas de avaliação. No BI, vestibulares poderiam ser substituídos por provas mais genéricas, como o Enem. As disputas mais concorridas se dariam a partir das notas obtidas ao longo do próprio BI.
Outra vantagem é a compatibilização do sistema brasileiro com o dos principais centros universitários mundiais, notadamente os de EUA e União Européia, que vão convergindo nesse aspecto. A UE, por meio do chamado Processo de Bolonha, está integrando os modelos dos vários países.
A iniciativa dos BIs, batizada de Universidade Nova, já se encontra em fase avançada de debates em 17 universidades federais brasileiras. É o caso de monitorar de perto seus resultados.
Não há muita dúvida de que esse seja o caminho. Daí a percorrê-lo é muito mais difícil. As resistências são grandes. E, mesmo que não houvesse oponentes, nada há de trivial em mudar um modelo que vigora há décadas sob o mesmo e antiquado parâmetro. Ficar parado no tempo, porém, é a pior opção.
EDITORIAL DA FOLHA DE S. PAULO