II Seminário Nacional Universidade Nova
O Segundo Seminário Nacional sobre a Universidade Nova realizou-se na Universidade de Brasília – UnB, no Auditório Dois Candangos, no período de 29 a 31 de março de 2007. O Encontro representou um segundo momento de reflexão, análise e debates, em âmbito nacional, acerca do Movimento Universidade Nova.
Participação - Participação - Compareceram ao evento representantes do Ministério da Educação, de 52 Universidade Federais, Universidades Estaduais, Particulares, ANDIFES, Secretarias Estaduais de Educação, ANDES, FASUBRA, dentre outras
entidades, totalizando 450 participantes.
Mesas-redondas - Foram realizadas duas mesas-redondas:
A mesa-redonda Anísio Teixeira e sua concepção de universidade, na manhã do dia 29/03, contou com a participação dos professores Hélgio Trindade (UFRGS), João Augusto Rocha (UFBA), Ana Waleska Mendonça (PUC-RJ) e Timothy Mulholland (UnB).
O professor Hélgio Trindade destacou na trajetória de Anísio Teixeira de intelectual, educador e homem de ação, algumas características que o marcaram, como idealizador de utopias, como pragmático e empreendor, como possuidor de uma visão sistêmica e coerente da educação em todos os níveis e, sobretudo, como um homem capaz de pensar o seu tempo e estar na vanguarda desse tempo, destacando a atualidade do seu pensamento que embora datado de mais de quarenta anos, permanece profundamente consentâneo como as demandas do mundo atual.
O professor João Augusto Rocha, estudioso da vida e obra de Anísio Teixeira, ateve-se, na sua exposição, aos aspectos mais biográficos e políticos do educador, referindo-se à sua formação educacional marcadamente jesuítica, o brilhantismo de aluno, a precoce vocação para a vida religiosa, os estudos de Direito no Rio de Janeiro, os estudos posteriores no Teacher´s College da Universidade de Columbia, o afastamento da Igreja Católica, os cargos ocupados na educação pública do Distrito Federal, a participação nos movimentos em defesa da Escola Nova, as perseguições da Igreja e do Governo Vargas, resumindo o seu perfil político como o de um democrata-liberal convicto mas incompreendido pelas esquerdas, que o julgavam politicamente conservador, e pela direita que o acreditava partidário de ideais socialistas.
A exposição da professora Ana Waleska, fruto de sua tese doutoral sobre Anísio Teixeira, expôs em detalhes a trajetória do pensador brasileiro como idealizador da pioneira Universidade do Distrito Federal, em 1935, a sua implantação e as vicissitudes políticas que resultaram na extinção dessa experiência no início de 1939, na vigência do Estado Novo.
O Reitor da UnB, professor Timothy Mulholland, apresentou em detalhes do Plano Orientador da UnB de 1962, com destaque para a estrutura curricular inovadora que essa proposta de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro representaram naquela breve experiência interrompida em 1964 com o Golpe Militar.
A mesa-redonda da tarde do dia 29/03, Educação Superior no Mundo, teve como apresentadores os professores Carlos Benedito Martins (UnB), Márcia Pontes (UFBA), Leonardo Lazarte (UnB) e Naomar de Almeida Filho (UFBA). Os três primeiros expositores ao apresentarem dados e análises sobre os sistemas de educação superior dos Estados Unidos, do continente europeu e de três países latino-americanos (Cuba, Argentina e México) adotaram diferentes enfoques:
O professor Carlos Benedito Martins descreveu do modelo norte-americano, as relações público/privado, questões de financiamento, de autonomia, de hierarquia entre as instituições, abrangência do atendimento, formas de acesso de estudantes e a enorme produção de conhecimento da pesquisa universitária. Em suma, destacou aspectos macro-estruturais do funcionamento do sistema norte-americano evidenciando a sua eficiência, esclarecendo, entretanto, que não pretendia fazer a sua apologia ou defende-lo como modelo para o Brasil.
A professora Márcia Pontes falou brevemente sobre algumas características gerais da organização do ensino superior na Europa até 2000, atendo-se mais aos aspectos da concepção curricular preconizada pelo modelo unificado de educação superior, conhecido como Processo de Bolonha, tomando como exemplo de sua implementação cursos de graduação oferecidos nas Universidades de Lyon (França) e Oxford (Inglaterra).
O professor Leonardo Lazarte, na análise comparativa dos três países, destacou a questão do acesso e da permanência não somente à educação superior como também à educação primária e secundária.
O professor Naomar de Almeida Filho fez uma síntese comparativa dos modelos apresentados, acrescentando referências à educação superior em outras regiões do mundo como a Ásia.
À mesa redonda seguiu-se um debate sobre os temas abordados nos dois painéis que se prolongou até as 19:00 h.
Painéis - No dia 30/03 foram apresentados dois Painéis:
No período da manhã o tema do primeiro painel foi Desafios da Universidade no Século XXI, com as presenças dos professores Edson Nunes (CNE), Ênio Candotti (SBPC) e Manuel Palácios (SeSU), esse último, como palestrante e representante do Ministro da Educação, Fernando Haddad. Foram proferidas as seguintes palestras:
O professor Edson Nunes abordou aspectos relacionados com educação superior e o mundo do trabalho, apontando, com muita ênfase, algumas deficiências e inadequações do sistema de educação superior no Brasil, tais como: o baixíssimo percentual de portadores de diploma superior na população adulta e de jovens no ensino superior, o elevadíssimo índice de matrícula nas IES privadas, comparando as características das IES públicas e privadas (referindo-se às empresariais como “mercantis”), apresentando dados sobre a aderência entre formação profissional superior e ocupações, destacando a diferença entre os conceitos de profissão e ocupação e denunciando o “cerco” das ordens profissionais ao Conselho Nacional de Educação no sentido de garantirem o apoio aos seus propósitos corporativos. Foi enfático ao declarar a superação do modelo profissional de ensino de graduação e o apoio do órgão que preside (CNE) ao Movimento Universidade Nova.
O professor Ênio Candotti também declarou a sua aprovação à proposta da Universidade Nova e, na sua exposição, questionou a excessiva valorização do saber científico nas universidades, defendendo as formas tradicionais de saber e denunciando o burocratismo dos órgãos governamentais no trato da gestão e controle das atividades ligadas à pesquisa com destaque para as questões ambientais.
O professor Manuel Palácios destacou o apoio do Ministério da Educação ao Movimento da Universidade Nova, descreveu as graves deficiências e problemas do atual modelo profissional de graduação, esclareceu alguns detalhes sobre o Projeto de Decreto Presidencial recentemente divulgado, destacando que não se trata de “adotar por decreto” o modelo Universidade Nova e que a autonomia das Universidades será sempre preservada.
Na tarde do dia 30/03 ocorreu o Painel Universidade Nova, que reuniu quatro Reitores, Luís de Sousa Santos (UFPI), Timothy Mulholland (UnB), Luiz Bevilacqua (UFABC) e Naomar de Almeida Filho (UFBA) que expuseram o detalhamento das atuais propostas de mudança da arquitetura acadêmica elaboradas no âmbito das suas Instituições. No caso da UFABC, trata-se de uma proposta em implementação desde o segundo semestre de 2006.
Os dois painéis foram seguidos de acalorados debates que se prolongaram até as 19:30 h.
*Grupos de Trabalho - * Na manhã do dia 31/03 foram instalados quatro Grupos de Trabalho para discussão e encaminhamento de propostas dos seguintes temas:
- Grupo A – As áreas de formação e as titulações dos Bacharelados Interdisciplinares e descrição das etapas.
- Grupo B - Organização da Docência, Estratégias e Práticas Pedagógicas.
- Grupo C - Avaliações, Acesso de Estudantes, Organização e Gestão Acadêmica.
- Grupo D - Salas de Aula, Tecnologias, Bibliotecas e Midiatecas.
Os debates se prolongaram até as 12:30 quando teve início a apresentação das conclusões dos grupos, sendo que em dois grupos (B e C) não houve consenso em torno de nenhum dos pontos debatidos. O Grupo A convergiu no sentido da criação de um bacharelado com dois anos de formação geral, seguido de mais um ano de formação específica num campo básico ou profissional. O Grupo D foi o que apresentou resultados mais consistentes, oferecendo muitas sugestões para o desenvolvimento dos seus temas bem como adentrando pelas estratégias e práticas pedagógicas que visem novas formas de organização do ensino e de participação a distância, com uso de tecnologias.
O Segundo Seminário Universidade Nova pode ser considerado um êxito na medida em que obteve novas e significativas adesões institucionais, participação de um grande número de dirigentes e professores que permaneceram até o final do evento, do compromisso espontâneo de diversas IFES em promoverem seminários internos de divulgação de discussão e da ampla cobertura dos meios de comunicação locais.
Para maiores informações sobre as palestras (slides e textos), proferidas no II Seminário Nacional da Universidade Nova, consultar o link: www.nova.unb.br.