A peia é popularmente conhecida entre os adeptos do culto do Santo Daime como � surra do daime� Expressa-se por vômitos, diarréias, tremedeiras, mal estar, ou qualquer outro tipo de evento desagradável pelo qual possa se encontrar o sujeito sob efeitos do potente alucinógeno de origem indígena. A escolha da peia, ou castigo simbólico, se deu por motivos pessoais e pelo fato de não haver quaisquer pesquisas sobre esse tema. É nossa hipótese que a peia é uma experiência simbólica de caráter polissêmico e não se limita somente à idéia de castigo. A sua interpretação e significação estão intimamente relacionadas com a noção de cura e doença, e tem como implicação principal a ordenação simbólica dos adeptos. Os efeitos purgativos comuns à bebida, no Santo Daime, são resignificados e interpretados a partir de um sistema de valores que prioriza o bem, a luz, a �erdade� em detrimento do mal, das trevas e da �lusão� A peia tem, assim, ação coercitiva e mediadora, agindo no sentido de promover o aprimoramento da conduta dos adeptos segundo o modelo idealizado por mestre Irineu e padrinho Sebastião, líderes principais da linha daimista pesquisada. A peia, enfim, não é um fenômeno a priori, é produto cultural das experiências idiossincráticas dos líderes e demais daimistas e, dessa forma, tem também importância histórica, na medida em que grandes peias coletivas são lembradas como momentos de dificuldades vivido pelo grupo. A pesquisa foi participante e realizou-se na igreja paulista Céu de Maria, localizada nos arredores da capital paulistana, junto à fiscais masculinos e femininos. |