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Português Brasileiro Em Debate: Questões Atuais

Língua portuguesa ou tupiniquim?

Segundo Bagno, nem um a coisa nem outra. Vivemos atualmente um momento intermediário do desenvolvimento de nossa língua, pois ela ainda se assemelha com o português falado em Portugal, mas apresenta grandes diferenças estruturais, principalmente com relação ao uso que os falantes de lá e de cá fazem dos recursos lingüísticos que têm à sua disposição. Isso que significa que nos comunicamos através de uma língua ou idioma que podemos chamar de português brasileiro. "É muito provável que daqui a 500 anos ela já esteja tão diferente do português de Portugal que os dois povos não se entenderão mais. Aí sim será possível chamar nossa língua simplesmente de brasileiro", diz Bagno.

Para o pesquisador, o surgimento das línguas sempre foi assim, com raízes comuns, mas com diferenças que lhe dão personalidades e vidas próprias, desenvolvidas ao longo do tempo de acordo com as variações culturais das sociedades que as criam e utilizam. Um exemplo disso está na Península Ibérica, onde surgiram o português e o espanhol derivados do latim vulgar e com outras influências, tão parecidos ainda hoje mas tão diferentes. "Desde o primeiro dia em que um português começou a falar em terras brasileiras, a língua iniciou seu processo irreversível de mudança", explica Bagno. "Infelizmente, na mentalidade da grande maioria das pessoas, alimentada principalmente pela escola e pelos defensores da gramática tradicional que invadiram a mídia, esse processo de mudança é visto como decadência, ruína e corrupção do idioma", critica. "E o mais curioso é que em todos os campos da vida social, a mudança e o progresso são vistos como coisas positivas. No caso da língua isso acaba sendo entendido apenas como fruto da falta de cultura, do falar errado da maioria da população."

Linguagem culta

Um dos capítulos do livro é dedicado ao Projeto NURC, foi criado no início dos anos 70 com o objetivo de melhorar o conhecimento sobre a língua realmente falada pelos brasileiros cultos. Foram feitas gravações da língua falada por essas pessoas em cinco grandes centros urbanos (Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre). Após a transcrição e análise do conteúdo dessa língua, os pesquisadores perceberam que ela possui sua própria gramática, com regras muito diferentes daquelas que aparecem até hoje como únicas "certas" nas gramáticas normativas e no ensino tradicional.

Para ilustrar, os pronomes oblíquos de terceira pessoa (o, a, os, as) praticamente desapareceram da língua dos brasileiros e só aparecem de vez em quando, em situações extremamente formais quando o falante quer mostrar que conhece bem as regras aprendidas na escola. O acervo do NURC tem servido, nos últimos 30 anos, para a realização de várias monografias, dissertações e teses, como a que deu origem ao livro de Bagno.

Além da discussão sobre a situação da nossa língua, o autor teve outra intenção, que foi oferecer aos professores de português, principalmente do ensino médio, algumas ferramentas teóricas e práticas para começarem a introduzir a pesquisa lingüística em sala de aula como forma de estimular os estudantes a refletirem sobre o funcionamento da língua.

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