TV DIGITAL E FORMAÇÃO DE PROFESSORES (Artigo sendo produzido nas normas da Revista Diálogos Possíveis, da Faculdade Social da Bahia, Qualis B Nacional)

1 INTRODUÇÃO

As questões aqui colocadas nascem do envolvimento cotidiano dos autores deste texto com a formação de professores, mais especificamente em nível de graduação. Essa experiência mostra que são muitas as questões a serem pensadas quando se toma em consideração essa temática. Podemos citar rapidamente as políticas de formação, os direcionamentos apontados, o aligeiramento dessa formação, o desenvolvimento de um rol de conhecimentos que se aproxime das funções que serão, mais tarde, assumidas pelo professor e uma formação que transcenda um viés tecnicista ou neotecnicista e que recupere o lugar do docente como sujeito no seu trabalho pedagógico.

Somado a essa trajetória e às preocupações que se colocam, vivemos um contexto em que a realidade político-econômica edifica-se sobre a divisão social do trabalho, sobre a expropriação do ser humano daquilo que ele produz e de sua própria condição de sujeito e tem os aspectos financeiros como prioridade a despeito do social. Nessa conjuntura, os processos educacionais e formativos são orientados numa perspectiva mercadológica, já que a educação tem um importante papel na garantia de continuidade das relações de produção e acumulação capitalista e devido a estratégias cada vez mais refinadas e complexas das classes hegemônicas no sentido de manter o status quo (GENTILI, 1995; MÉSZAROS, 2005).

São estabelecidas estratégias de esvaziamento das funções educacionais, através do sucateamento da escola pública, no processo de minimização do Estado e de culpabilização dos sujeitos pelas mazelas do sistema educacional, que são estruturadas nos planos político, econômico e social. Além disso, os processos de formação de professores passam a se pautar no modelo de competências, com um viés produtivista, tecnicista e reducionista, retirando do professor sua função e consciência de sujeito transformador, num processo de imposição de um senso comum (NOTA DE RODAPÉ - SENSO COMUM EM GRAMSCI - Na perspectiva gramsciana, o senso comum é construído como forma de legitimar uma hegemonia por meio de estratégias que transcendem a coerção pela força pelo uso de estratégias que se utilizam do conhecimento e da cultura) que naturaliza os rumos históricos como se fossem os únicos caminhos possíveis.

Nessa mesma conjuntura, e colaborando para torná-la ainda mais complexa, é possível ter acesso a uma série de “coisas” e informações por diversos meios de informação e comunicação num ritmo de fast food, já que a área de eletrônicos teve grande expansão nas últimas décadas do século XX. Essas tecnologias possibilitam o estabelecimento de redes de significação e novas possibilidades de construção do conhecimento e cultura.

Apesar de todo esse desenvolvimento tecnológico e de todos os questionamentos que se colocam nesse cenário, o campo educacional não atendeu, historicamente, às necessidades que se colocam com essa transformação porque isto exige mudanças estruturais. Ou seja, do mesmo modo como afirma Belloni (2001), entendemos que são muitos os desafios que estão postos para o campo da educação, desde o âmbito de definição e implementação de políticas públicas, passando pelo âmbito da organização do conhecimento e pelo âmbito da formação dos professores.

Assim, além de não se conseguir efetivar um processo comunicativo de qualidade com as novas gerações, de não se configurar um contato entre o mundo extra-escolar e escolar, a escola vai perdendo seu sentido social e continua, de tal modo, atendendo aos interesses hegemônicos porque o professor é concebido como objeto descartável, está alienado de sua função, de seu papel, de sua importância de sujeito imortal, como diz Rubem Alves. Ou seja, não restam dúvidas sobre a necessidade de reconfiguração e ressignificação dos processos escolares.

É aí que se aponta a necessidade de discutir o processo formativo do professor diante de uma conjuntura contraditória, complexa, mas que exatamente por isso (lembremos que numa perspectiva dialética que é na contradição que se colocam as possibilidades de transformação) coloca possibilidades de resgatar o lugar professor como sujeito de transformação e, consequentemente, a escola como espaço/tempo de afronta criativa às imposições do modo de produção capitalista, tendo nas tecnologias não só um recurso técnico, mas uma forma de construir e transformar o conhecimento sobre a realidade e ela própria.

Então, temos como questão: que desafios e possibilidades são postos pela TV digital para o processo de formação de professores quando se considera as novas finalidades e atribuições dos processos educativos?

Para tanto, seguiremos o seguinte percurso de discussão: primeiramente, localizaremos o motivo que nos leva a destacar a televisão, e não outra tecnologia, pontuaremos aspectos relacionados às mudanças no sistema televisivo brasileiro e discutiremos a concepção de formação de professores que assumimos diante das novas tecnologias e, por fim, traremos os desafios e possibilidades que estão postos nessa conjuntura.

DENTRE TANTAS TECNOLOGIAS, A TELEVISÃO

Na segunda metade do século XX, as tecnologias da informação e comunicação tiveram um amplo desenvolvimento. Segundo Pretto (1999), esse processo se concretizou devido ao barateamento dos equipamentos da área de eletrônicos. De acordo com Belloni, a miniaturização, a digitalização e o surgimento das redes telemáticas, somadas ao fator posto por Pretto (1999), fizeram com que as tecnologias se difundissem até constituírem-se parte da vida cotidiana. Assim, o grande volume de produção de conhecimento somado com a digitalização transformou a informação em uma moeda simbólica, estabelecendo o que se conhece como sociedade da informação (NOTA DE RODAPÉ - SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO (BONILLA/ FRIGOTTO) - Bonilla (2005) refere-se à sociedade da informação como uma denominação que não consegue abarcar a complexidade que caracteriza as relações sociais da contemporaneidade, pois a informação é algo desprovido de signos e significados. Para Frigotto (1995) a denominação de sociedade da informação é um "delírio da razão" que constitui a tentativa de manutenção das relações de produção capitalistas).

Essas informações, geradas e disseminadas em ritmo de fast food, como já afirmamos, vão pondo no carrossel do dia-a-dia, idéias e valores sobre formas de ser e estar no mundo, de modo que influenciam a sociedade, suas instituições, enfim, a própria constituição do ser humano e as relações que se estabelecem entre eles.

No que concerne à constituição do ser humano, podemos dizer que as tecnologias da informação e comunicação têm uma dimensão pedagógica, mesmo estando pautadas no modelo da informação. Para Gutiérrez (2003), as tecnologias da informação e comunicação trazem uma pedagogia própria porque possibilitam o acesso a informações permanentemente atualizadas, porque os signos que são aí postos interpelam os sentidos, moldam valores e desejos dos sujeitos, devido a portarem uma dimensão lúdica que envolve as pessoas e, ainda, por possibilitarem novos modos de interação que constituem experiências educativas no âmbito informal, como coloca Silva (1998).

Destacamos o novo modo de estabelecimento de relações entre as pessoas, porque os recursos tecnológicos e comunicacionais possibilitam o estabelecimento e ampliação de redes, devido ao fato de possibilitar, ainda conforme Pretto (1999), o contato entre pessoas de diferentes lugares do mundo, de culturas diversas, tendo se tornado, segundo Porto et al. (2003) parte importante na vida das pessoas devido aos conhecimentos que são elaborados e reelaborados nessas relações. Portanto, as redes são co-responsáveis por novas formas se sentir, pensar e agir, como nos diz Pretto (1999).

INSERIR COMENTÁRIO DE MARTIN-BARBERO SOBRE A FORÇA POLÍTICA E CULTURAL DAS TECNOLOGIAS (DAS MÍDIAS ÀS MEDIAÇÕES) .

Então, por que dentre tantas tecnologias, optamos em discutir a TV? Primeiro, porque dentre as tecnologias de informação e comunicação, a televisão encontra lugar de destaque por ser uma tecnologia barata, que não exige grandes habilidades de manuseio nem muito esforço intelectual para entender o que está posto como mensagem (BELLONI, 2001; FISCHER, 2006). Devido a esses fatores, e este se configura como mais um motivo de nossa opção, a televisão é um meio de comunicação ao qual grande parte da população brasileira tem acesso e, além disso, devido à pobreza que caracteriza a sociedade brasileira, muitos sujeitos têm apenas esse recurso como opção de informação, lazer e entretenimento (PORTO, 2000).

Ademais, todos nós passamos anos consumindo freneticamente as mensagens televisuais. Assim, as crianças, adolescentes e jovens parecem aprender por tal via coisas mais interessantes e atraentes do que aquilo que é ensinado na escola. E esta ainda não absorveu as tecnologias da comunicação como elementos que são mais do que recursos técnicos a serviço da organização de uma aula, mas que transformam e modificam os modos de conhecer e até de ser (BELLONI, 2001). Desse modo, a televisão, fazendo uso de uma linguagem específica que mescla som, texto e imagem (FISCHER, 2006), tornou-se uma fonte de saber semelhante à escola, sendo responsável pelo processo de socialização, ou seja, tem influência no sistema de valores, nos modos de vida, nas crenças, nas representações, nos papéis sociais que são assumidos pelos sujeitos que com ela interagem. Isto faz da televisão "um mágico capaz de truques coloridos e muitas, muitas máscaras", diante do qual muita gente vive caladinha, prestando atenção, como coloca De Paula (1986).

Além disso, atualmente, o sistema televisivo brasileiro vem passando por um amplo debate e por uma transformação que já se faz concreta: a implementação da TV digital (TVD). Processo este que envolve debates políticos e interesses comerciais, além de uma preocupção de parte da sociedade brasileira com as mensagens aí veiculadas e com a possibilidade do espectador agora interagir e produir respostas para tais enunciados.

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR/SUJEITO DE TRANSFORMAÇÃO

Como pontuamos inicialmente, há um entendimento amplo de que a escola não acompanhou o desenvolvimento tecnológico e não dá conta das necessidades postas por essas transformações, sem considerar a necessidade de mudanças estruturais no âmbito educacional, dentre as quais está a premência de pensar a formação de professores considerando-se para além de meros executores de tarefas, portadores de conhecimentos técnicos e memorizadores dos livros didáticos a serem regurgitados em sala de aula e decorados pelos alunos. É preciso redimensionar a formação de professores e vê-la como, apenas um, elemento que pode possibilitar a mudança de postura do campo educacional diante das tecnologias.

Entendemos, então, com base em Vasconcellos (2001), que os professores devem ter acesso a uma formação que lhes garanta o conhecimento necessário à organização e trato do conhecimento no trabalho pedagógico (formação pedagógica), num viés que supere a perspectiva do professor como mero executor de tarefas, construindo uma visão ampla da realidade sócio-político-econômica e da educação nessa conjuntura, tendo consciência do seu papel como intelectual orgânico que pode colaborar para estabelecer a escola como espaço de tensão e resistência criativa (formação política). Todavia, uma formação que também possibilite gerir, administrar o espaço da sala de aula estabelecendo uma comunicação significativa com os educandos (formação técnica) e, ainda, para lidar com as inovações tecnológicas tanto no sentido de possibilitar ao outro (educando) na utilização desses recursos como instrumento, mas também utilizá-los como formas de construção e transformação do conhecimento (formação tecnológica), como pontuam Menezes e Pretto (1999). Discutamos cada uma delas.

FORMAÇÃO PEDAGÓGICA

_Na perspectiva de resgate do professor como sujeito da transformação, é necessário considerarmos o trabalho do professor como algo diferenciado, que não se equipara com as outras formas de trabalho muito comuns na sociedade, como a industria, por exemplo. Isso não significa defender que este é um trabalho melhor ou pior, com mais ou menos valor do que outro. Implica sim, caracterizar suas ações de trabalho com elementos específicos, que demandam da própria especificidade do ato de ensinar. Numa sociedade movida pelo capital e seus valores, é perigoso e constitui-se num risco, defender o resgate de um trabalhador da educação a partir de dimensões que se configurem na contra-mão do movimento globalizado, pois falar de relações humanas tornou-se algo fora da moda e com status de ‘atrasado’ em relação à dinâmica complexa que norteia a vida nesse modelo de sociedade.

Ainda que com outras atribuições, a dimensão fundamental, e talvez mais implicada em suas ações, é a dimensão pedagógica do trabalho do professor, que constitui um conjunto de meios empregados por ele na interação com o aluno com objetivo de socializar as relações e os conhecimentos e também, porque não, a instrução (TARDIF, 2002). Em outras palavras, a perspectiva pedagógica da formação do professor se define como a tecnologia utilizada por ele na sua relação com o objeto, que nesse caso, é o aluno. E em sendo assim, ela não é plena quando somente é referendada como transposição didática, na motivação e gestão de uma turma, ou mesmo no trato com o conhecimento específico da sua intervenção.

O caráter pedagógico do trabalho do professor deve estar intimamente ligado às questões cotidianas da sua prática pedagógica, de modo que, historicamente, talvez tenho sido o olhar burocrático e apaixonado demais sobre a profissão que chagou a tornar descartável o professor em tempos de modernidade. Não compactuamos com a idéia de que habilidades inerentes ao homem que o pode tornar um professor em potencial, ou seja, o dom. Defendemos sim, que tratamos de uma profissão onde o objeto de trabalho é um ser humano, e por isso, demanda um conhecimento relacional fundamental, e, que mesmo a paixão motivadora da profissão, urge de uma tecnologia para a ação. A depender da qualidade dessa ação será ou não possível o resgate da dignidade profissional, ainda que outros fatores façam parte desse contexto, e esse conceito de qualidade precisa ser elucidado no bojo do projeto de homem e de sociedade que queremos formar, ou seja, questionarmos a quem serve essa qualidade, contra quem ela depõe, e pra quê ela servirá?

Vasconcellos (2001) contribui com nosso pensamento quando destaca algumas exigências vicerais para dimensão pedagógica do trabalho do professor, a saber: o planejamento assumido como instrumento de transformação da prática e como superação do dogma de ‘cumprir o programa’; objetivo claro de compromisso com a transformação social; a eleição de conteúdos relevantes e implicados no dia-a-dia da sociedade, com um viés crítico para a superação da superficialidade dos problemas, além de estar articulado interdisciplinarmente, sem dependência do livro didático, o que possibilita a busca por novas fontes de informação e leitura crítica da mídia, e, principalmente, um conteúdo que veicule valores como justiça, verdade, liberdade, paz e solidariedade; o uso de uma metodologia que privilegie a participação consciente do sujeito, que promova a construção do conhecimento e problematize os conteúdos e a própria prática social; e por fim, o bom uso da avaliação como instrumento de acompanhamento de todo o processo para a ajudar o aluno a aprender mais e melhor.

Além disso, e Tardif (2002) talvez dissesse que mais importante do que isso, é a dimensão relacional entre professor, aluno e disciplina, discutindo essa última como condição primária para o trabalho coletivo. Essa interatividade precisa estar pautada na dignidade e na crença do outro como ser humano, em valores como respeito, atenção e comunicação autêntica, no combate a quaisquer tipos de discriminação e na capacidade de resolver situações de conflito nesse contexto.

Esses elementos vicerais não apenas se constituem como uma prática utilitária mas, e especialmente, como portadora e ilustradora de tensões sociais acerca dos problemas que surgem da vida em sociedade, o que não nos permite defini-la numa dimensão científica, porém muito mais cultural, ou seja, está recheada de forças ideológicas, valores e interesses.

Portanto, entendemos e defendemos que a dimensão pedagógica da formação do professor é uma forma muito particular do trabalho humano existente na sociedade contemporânea, na qual importa associar a pedagogia a uma tecnologia utilizada por ele no trato com o seu objeto de trabalho: o próprio homem._

FORMAÇÃO POLÍTICA

FORMAÇÃO TÉCNICA

FORMAÇÃO TECNOLÓGICA

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

TV DIGITAL O QUE É TV DIGITAL?

Falar em TV digital significa falar em novos modos de transmissão do áudio e do vídeo com o uso de uma tecnologia que permite transmitir mais dados com uma melhor qualidade de som e imagem. Além disso, tal tecnologia possibilita maior interatividade entre receptor da mensagem e produtor da mesma. não é só isso que o suporte digital permite - pesquisem mais sobre isso

No mundo existem três padrões de TV digital: o americano, o europeu e o japonês. No Brasil, finalizando um processo que se arrasta desde a década de 1990, em decreto de junho de 2006 (decreto 5.820 de 29/06/06) opta pelo sistema japonês para a nossa TV, sendo que conviverão até 2016 os dois tipos de TV. quais dois tipos? tudo tem que estar bem claro!

A escolha do sistema japonês deu-se a partir do trabalho de vários comitês, com representantes ministeriais, entidades e pessoas com conhecimento técnico, tendo como critérios o custo, o desempenho e a confiabilidade. não foi bem assim que as coisas aconteceram - pesquisem melhor os motivos desta escolha e estabeleçam relação com a discussão que fizeram acima sobre capitalismo Vale ressaltar, que esse modelo era o defendido pelas grandes emissoras de TV aberta do Brasil. Então questionamos: o que elas ganham com isto? E tal questionamento é construído considerando a história da televisão brasileira, que em seu período de maior expansão foi financiada por governos militares e tem, hoje, interesses diretamente ligados às questões comerciais. não deixem perguntas abertas - desenvolvam argumentações e se posicionem frente aos problemas

Pretto e Lucena reforçam que a opção técnica está encharcada de interesses e pressões no âmbito político por parte de sujeitos pesquisadores, no âmbito técnico e social. (ABNT/ QUAL O ANO/ESCRITA DO TEXTO OU ACESSO?) desenvolvam isso

A TV digital será implantada em etapas, começando pela cidade de São Paulo e atingindo todo o país em 2011. Cada TV analógica terá direito a um novo canal de freqüências de transmissão digital, mas continuarão veiculando a programação anterior, no caso, a que temos acesso hoje. e como será feita a conversão? Falem do set up box

Entre as opções que as entidades brasileiras estão fazendo no processo de decisão e implementação da TV digital no Brasil, há um ponto que nos interessa ressaltar: a interatividade, que aparece em destaque no decreto que opta pelo padrão japonês. Isto aparece porque há, inicialmente e aparentemente, uma preocupação com a garantia de atendimento à diversidade cultural do nosso país e com a retirada dos telespectadores como meros receptores da monologia televisiva que caracteriza a TV atual. é preciso pesquisar o que está sendo entidido por interatividade no projeto

-- MarthaCosta - 16 May 2007

Topic revision: r7 - 20 Jun 2007 - 17:12:32 - MarthaCosta?
 
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