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DoriedsonAlmeida - 12 Mar 2007
Nossa proposta de pesquisa contrapondo instituinte/instituído decorre da constatação de que parece haver uma certa “homogeneização” dessas políticas, sem espaço para o novo, para o criador, para o “subversivo”, o que a nosso ver provoca um “uso conservador dessas tecnologias”, que em tese deveriam servir à inovação e à transformação didático-pedagógica.
Em uma sociedade plural e culturalmente diferenciada como a brasileira essas práticas podem contribuir para uma espécie de “engessamento virtual” desse multiculturalismo, fato que a nosso ver já vem ocorrendo, e às vezes é até estimulado por certas iniciativas e ferramentas/interfaces presentes nesse universo. Pretto, nos adverte sobre os riscos que essas grandes estruturas correm no seu uso cotidiano:
[...]“Essas são questões fundamentais e, se não pensarmos nelas, mais uma vez vamos montar enormes estruturas que potencialmente são estruturas comunicacionais, de diálogo e criatividade, e transformá-las em estruturas burocráticas de cumprimento de tarefas. E se nós, professores, estamos fazendo isso apenas como mais uma tarefa padronizada e burocrática, não resta a menor dúvida que muito em breve - ou será que já começou?! - estaremos passando estas mesmas monótonas e repetitivas tarefas para nossos alunos. E eles, mais uma vez, vão nos odiar!” (1999, p. 2).
Pretto (2004) adverte que faz-se necessário transformar a educação no Brasil e os espaços/tempo onde ela ocorre em “espaços de produção de rebeldias”. São os indícios dessas rebeldias nos espaços/tempo destinados a inserção de TICs na escola e à inclusão sócio-digital, que perseguiremos em nossa proposta de pesquisa.
Entendemos que é a partir da realidade onde são construídos os universos reais e virtuais (que se interconectam) que encontraremos pistas sobre como ocorre (ou não) essa interação TIC/professores e alunos e a produção de conteúdos, significados e de novas formas de aprendizagem à partir de sua utilização. Apreendemos com Levy (2001), que nessa dinâmica, o virtual se sobrepõe ao real, e a sala de aula funciona como vetor e espaço onde essas relações se entrelaçam com as diversas culturas, realidades locais e os “nós” desse imenso mundo virtual.
Como afirma Dias (2000), “as redes se instalam sobre uma realidade complexa e não em espaços virgens”. Neste sentido, torna-se urgente compreender que a implantação e ampliação destas redes de comunicação pressupõem a existência de “nós” fortalecidos (valores/culturas locais) e, principalmente, com alto nível de visibilidade e flexibilidade. Sobre isso ouçamos Pretto(1996):
“Visibilidade e flexibilidade estas que só serão conseguidas se, além da necessária presença dos elementos técnicos básicos (fios, cabos, linhas telefônicas, satélites, trasnponders, televisões, computadores, centrais de comunicação), tivermos ao mesmo tempo os elementos culturais produzidos e amplificados a partir das culturas locais”. (Pretto p. 5, 1996).
Minha experiência, como formulador e gestor de alguns projetos que destinam-se utilizar espaços de educação formal (em redes municipais de ensino) e não formal (ongs, movimentos sociais), enquanto espaços convergentes destinados à inclusão sócio-digital e uso de TIC como ferramenta de apoio à cognição leva a inferir que as experiências de professores, alunos e as práticas curriculares contribuem para (re)significar o uso das TICs e/ou para um certo “engessamento pedagogizado” desses recursos.
Desejo aprofundar essa temática sobre o usos das TIC em processos de ensino e aprendizagem (já desenvolvida no Mestrado em Educação), analisando as políticas instituintes e as táticas cotidianas de apropriação sócio-cultural dessas tecnologias pela escola e/ou por iniciativas de diversos projetos e atividades que ocorrem para além dos seus muros, buscando um contraponto entre o instituinte e o instituído.
Tentarei compreender como as TIC e/ou universos paralelos reais/virtuais por elas suportados, estão (re)significando o espaço do ensinar e do aprender e sendo (re)significadas pela ação cotidiana e pelas táticas e subversões de alunos e professores. Penso, que em pesquisas dessa natureza não podemos nos restringir ao universo originariamente concebido para a construção do conhecimento - a escola, mas abordar, também, outros espaços concebidos como de educação não formal ou que acabam assumindo esse papel, vistos como complementares e/ou concorrentes à escola, a depender do ângulo que o enxergamos.
Espaços como casas de jogos em rede, telecentros, comunidades virtuais de relacionamento, salas de bate-papo, entre outros, farão parte do escopo macro desse estudo buscando verificar sinergias e conflitos surgidos a partir dessa sobreposição espacial no real e no virtual.
Para tanto, o uso das TIC no processo de ensino/aprendizagem e em processos lúdicos e/ou criativos, será tratado enquanto recurso pedagógico que oferece inúmeros recursos a serem explorados de diferentes modos, podendo contribuir ou não para a melhoria dos processos cognitivos e de criação, e não como a panacéia para todos os males da educação. Sobre isso, vejamos o que nos ensina Pretto(1996):
Nos dias atuais percebemos a presença intensa de instrumentos tecnológicos – que preferimos denominar de elementos tecnológicos para diferencia-los de uma perspectiva instrumental e mecanicista – que vem possibilitando uma nova razão cognitiva, um novo pensar, novos caminhos para construir o conhecimento de forma prazerosa e lúdica. Tal constatação provoca muitos questionamentos por parte de vários segmentos da sociedade, inclusive dos professores, que vêem, de um lado, estas tecnologia com certa desconfiança e, de outro, com expectativas exageradas que fogem à realidade, uma vez que acreditam que estes elementos tecnológicos, por si só, possam resolver os problemas do sistema educacional. Vivemos esta ocilação constante entre estes pólos e pensamos ser urgente, neste momento, construir uma postura de equilíbrio, percebendo as possibilidades e limites destas tecnologias no ambiente escolar (Pretto, 1996, p. 30).
Esse projeto de pesquisa considera que a análise das propostas oficiais em curso, sem levar em conta as práticas, saberes e fazeres construídos cotidianamente e em diferentes espaços/tempo, bem como pontos de convergências e conflitos vividos pelos diversos atores que povoam esses espaços, correrá o risco de não dar conta de compreender subjetividades e outros aspectos importantes para a ciência da cognição e para a compreensão dos fenômenos que nos propomos a pesquisar. nesses universos em transformação.
Em nossa opinião, isso nos coloca frente ao desafio de pesquisar alternativas que contribuam para tornar a escola menos passiva e as tecnologias mais flexíveis em relação aos interesses e necessidades cotidianas de alunos e professores e às diversas realidades didático-pedagógicas da escola, sobre tais desafios Alves destaca que:
[...] por este fato, toda uma necessidade se impõe àqueles que, seriamente, desejam entender e oferecer alternativas à escola hoje: abrir espaço e tempo à compreensão das relações entre conhecimento real, o currículo real e as novas tecnologias e novos conhecimentos existentes na sociedade – a informação sobre tudo isso que circula, como circula, porque circula e a favor de quem circula (Alves, 1999, p. 120).
Entendemos que para encontrar respostas capazes de ajudar na melhoria das relações observadas por Alves (1999), as pesquisas não devem estar focadas somente nas tecnologias propriamente ditas, mas sim na forma como estas são apropriadas/sentidas pelos múltiplos atores que constroem o cotidiano escolar, em sua interação com as TICs.
Assim, acreditamos pensamos que é mergulhando nesse cotidiano real que encontraremos pistas capazes de propor uma interação mais convergente de forma a proporcionar pontos de conexão entre esses dois universos paralelos (propostas escolares/não escolares, universo real/virtual, objetivos propostos/praticados), fazendo com que estes possam coexistir e colaborar entre si para propor novas estratégias, novos modelos e espaços capazes de superar os desafios colocados.