FUST e UCA: Perspectivas de políticas de inclusão?

Autores: Darlene Almada, Joseilda Sampaio, Maria Helena Bonilla e Nelson Pretto


Resumo

Este trabalho tem como objetivo apresentar políticas públicas que favorecem a inclusão sociodigital destacando o projeto UCA e as discussões sobre os uso dos recursos do FUST, assim como o conceito do termo “inclusão”. Para isto utilizamos como aportes das análise e reflexões, uma revisão bibliográfica e de documentos específicos acerca do que foi discutido. Podemos concluir que apesar dos vários questionamentos e incertezas que cercam essas políticas em se tratando de infra-estrutura essa é uma proposta muita boa. Porém, o que deve ser ressaltado é que ela pura e simplesmente não é suficiente, é preciso priorizar processos de formação e de construção de cidadania, pois, assim, pode ocorrer a inserção social desses sujeitos, fazendo com que sejam sujeitos sociais capazes de exercer efetivamente a sua cidadania, e de transformar o contexto em que vivem, o que acreditamos que é de ordem política e que compete principalmente ao governo.

Palavras Chaves

Inclusão Sociodigital, Políticas Públicas, Educação, UCA, FUST


Presenciamos na contemporaneidade um desafio a ser superado pela sociedade, que é a questão da inclusão/exclusão, e ao pensar em Brasil, encontramos um país marcado pela exclusão social, que priva as pessoas de terem uma participação mais efetiva no processo social. Em conjunto com as mazelas sociais também encontramos a presença das tecnologias da informação e comunicação (TIC), que ao serem vistas numa perspectiva socioeconômica, são responsabilizadas pelo aprofundamento das desigualdades sociais.

No entanto, ao mesmo tempo que as TIC são percebidas como responsáveis pelo aprofundamento das desigualdades sociais, elas também podem se converter em fortes aliadas para superação desse quadro. Isso só será possível, à medida que o país, elabore fortes políticas de universalização do acesso, com apropriação crítica dessas tecnologias por segmentos menos favorecidos, articulados a estratégias de desenvolvimento social.

A Inclusão Sociodigital

O termo inclusão digital, passou a ser discutido de forma mais abrangente com a implantação dos chamados Programas Sociedade da Informação. No Brasil, com o chamado "Livro Verde: Sociedade da Informação no Brasil", essas discussões passaram a ser mais freqüentes tanto em nível político quanto acadêmico. Segundo Bonilla (2005, p.41) o país adotou o caminho de primeiro investir no desenvolvimento da infra-estrutura de informações, em seguida na informatização da economia, para então chegar no patamar da Sociedade da Informação. Nesta lógica, percebe-se que diretrizes apontadas no Livro Verde envolvem essas duas fases: a primeira fase da infra-estrutura com investimentos em telecentros, projetos, políticas públicas, estrutura de rede, entre outros. E a segunda fase da economia informatizada, em que se constrói uma estrutura para investir na economia. Esta concepção é evidenciada na organização de uma economia digital, em que os sujeitos são vistos como consumidores de bens, serviços e informações. Desta forma, para esta mesma autora, esta é uma concepção do sistema capitalista, que ao mesmo tempo que gera exclusão, precisa também desses excluídos para conseguir se manter, e complementa afirmando que entende-se que se as comunidades de baixa renda não tiverem acesso à rede, a economia digital estará perdendo um grande número de consumidores, conseqüentemente negócios".

Percebe-se nessas fases, o descaso com as questões sociais, pois a complexidade da sociedade não se resume a apenas isto. Ao esquecer das questões sociais, as problemáticas das desigualdades relacionadas ao acesso as TIC tendeu-se a atingir uma grande parcela da população, ou seja, ao direcionar as discussões para a questão da infra-estrutura e para a questão da economia digital, percebe-se a manutenção da lógica capitalista. Que busca atingir o consumidor de serviços, o consumidor conectado a rede, e não houve uma preocupação de associar as problemáticas sociais com a potencialidade das tecnologias da informação e comunicação. Logo, nessa lógica, aqueles que já estavam excluídos socialmente também estariam excluído digitalmente.

São essas desigualdades que muitos conceituam como: exclusão digital, apartheid digital, infoexcluídos, brecha digital, divisão digital, entre outros. Com a justificativa de tentar reduzir essas desigualdades, é que são desenvolvidos diversos programas, ações e políticas públicas, denominados de programas de Inclusão Digital. Como o Projeto Cidadão Conectado - Computador para Todos, iniciado em 2003, que visa possibilitar à população que não tem acesso ao computador adquirir um equipamento com sistema operacional e aplicativos em software livre.

Entendemos que a inclusão tem uma relação direta com a exclusão, e que esta mantém uma lógica positivista e funcionalista (Boneti, 2005) legada da inclusão/exclusão social. Ao falar dessa lógica, nos baseamos em Boneti, que ao trazer um percurso da noção de exclusão social, destaca que, a lógica positivista considera o pressuposto da dualidade e estaticidade das relações sociais. Nesse caso, excluídas seriam as pessoas que estariam fora do social (leprosos, marginais, doentes mentais). A lógica funcionalista caracteriza um contingente populacional que estaria "fora, a margem da sociedade". Assim, vale destacar, que essa concepção dual "do de dentro e do de fora", serviu como base para a noção de cidadania.

No entanto, a noção de cidadania que entendemos e que persiste até os dias atuais é a que conserva uma proximidade com a noção de ser incluído/a, aquele que está associado aos direitos constitucionais (Boneti, 2005). Nessa perspectiva, incluída seria a pessoa juridicamente cidadã, ou seja, aquela que usufrui os seus direitos e deveres sociais básicos. Todavia, esse entendimento de cidadania, coloca para "fora" aqueles que não usufruem os seus direitos e deveres. Segundo Boneti (2005), os pedintes, os que não trabalham, que não votam, também são cidadãos, uma vez que eles não deixam de consumir (e o consumo na sociedade capitalista é de estrema importância). E a participação política destas pessoas se constitui "pela exteriorização dos conflitos e problemas sociais". Entendemos que cidadania representa acima de tudo participação ativa, que possibilite criação, construção, transformação, como processos indispensáveis para a realização do exercício de nossos direitos. Mas, para tal, é preciso que a sociedade seja composta de cidadãos conscientes da sua realidade, e dispostos a interferir sobre ela. Em suma, entendemos que o exercício da cidadania representa um meio de combater a chamada exclusão.

Ao associar cidadania a inclusão social, percebemos que esta inclusão também se configura em um processo complexo, pois esta é representada com o intuito de favorecer aos sujeitos o resgate de valores e direitos negados durante a sua história, e que serão conquistados a partir da efetiva cidadania. Contudo, podemos salientar que este não é um processo fácil, e sim, que é um processo construído a partir da conscientização dos sujeitos sobre a situação em que estão imersos, aliado ao desejo de mudança e transformação da sociedade e para tanto se faz necessário uma educação de qualidade.

Falar de inclusão, além desses pontos levantados acima, nos remete também a questão do acesso, porém, compreendemos que o acesso é importante, é o primeiro passo, mas não o único. Quando refletimos sobre essa questão do acesso e da inclusão, podemos dizer que de uma certa forma o termo Inclusão nos remete para a questão da inserção. Para Rifkin,

"A noção de acesso e de redes, entretanto está se tornando cada vez mais importante e começando a redefinir nossa dinâmica social de uma forma tão poderosa quanto a redefinição da idéia de propriedade e de mercados às vésperas da era moderna. Até recentemente, a palavra acesso era ouvida apenas ocasionalmente e, geralmente, restringia-se a questões de ingresso em espaço-físico. [...] Agora, acessar é um dos termos mais usados na vida social. Quando as pessoas ouvem a palavra acessar, provavelmente pensam na abertura para mundos totalmente novos de possibilidades e oportunidades".( 2001, p.12)

Bonilla (2005) destaca que na dinâmica inclusiva e exclusiva, a exclusão é mais violenta no sentido de não deixar alternativa ao excluído. Já Boneti ao citar Castel afirma que os excluídos, não constituem a bem da verdade um grupo homogêneo, e sim que estes são:"[...]mais precisamente coleções de indivíduos separados de seus pertencimentos coletivos, entregues a si próprios, e que acumulam a maioria das desvantagens sociais: pobreza, falta de trabalho, sociabilidade restrita, condições precárias de moradia, grande exposição a todos os riscos da existência, etc". (Castel apud Boneti, 2005)

Na verdade, a partir dessas reflexões trazida por Castel, entendemos que esses indivíduos separados de seus pertencimentos coletivos, de uma certa forma acentuam os índices dos excluídos. Que a pobreza, a falta de trabalho, as condições precárias de moradia aumentam também os problemas sociais, porém, isso não quer dizer que a exclusão se limita apenas a isso. Além dessas questões, Silveira (2001, p.18), considera que a exclusão digital ocorre por privar as pessoas de três instrumentos básicos: o computador, a linha telefônica e o provedor de acesso, em outras palavras, à questão da infra-estrutura também influencia em muito, pois sem uma infra-estrutura mínima não há condições de se ter acesso e muito menos o uso das TIC.

De acordo com o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br) - que é responsável pela produção de indicadores e estatísticas sobre a disponibilidade e uso da Internet no Brasil, as estatísticas de 2006 sobre a proporção de pessoas que já acessaram a internet no Brasil é de 22,41% na região nordeste, seguida de forma crescente pela região norte 25,54%, sul 36,19%, sudeste 36,89% e centro oeste 38,94% nos demonstrando que esses dados são animadores se comparados aos anteriores, pois em 2001 o sul do país era a região que mais acessava a rede, com 24% das pessoas on-line, seguido do Sudeste (23%), Norte e Centro-Oeste (17%) e, finalmente, o Nordeste com 10% (Folha de São Paulo, 2001) que continua sendo o último colocado em termos de acesso. Mas apesar de animadores o crescimento dessas estatíscas continua ínfimo em vista do contingente populacional brasileiro, haja vista, que 66,68% (CETIC.br) dos brasileiro nunca acessaram a internet. Se observarmos o índice estatísticos de acesso por classe social é notório a disparidade social, sendo dominante o acesso na classe A com 95,08%, na classe B de 72,29%, na C de 38,85% e na D e E de 12,23% (2006). Evidenciando que mesmo esses dados estatísticos estando, nos últimos anos, em constante crescimento, permanecem na lógica desigual de concentração.Nessa lógica Pretto e Serpa afirma que "[...] _o abismo entre os conectados e os não conectados é ainda muito grande e tende a aumentar se nada for feito no sentido de diminuir as disparidades sociais. Esse abismo coloca em evidencia uma das grandes preocupações desse momento histórico: o aparecimento da chamada infoexclusão". (Pretto e Serpa apud Bonilla, 2005, p.27).

Várias políticas públicas vêm sendo discutidas, fomentadas e implementadas no Brasil em vista de melhorar esses índices como os projetos de telecentros, infocentros, Casas Brasil e em relação aos acesso em escolas destacando-se o Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo) com uma especificação que possibilita o uso de software livre, para promover o uso pedagógico da informática na rede pública de ensino fundamental e médio e que, também prevê a qualificação dos professores. O que não podemos deixar de notar é que essas políticas são, na maioria das vezes, implementadas com base compensatórias, propondo a universalização do acesso as TIC, mas desarticuladas com os demais campos sociais e políticas vigentes.

Para Bonilla (2001) é importante considerar que a Inclusão digital não é uma questão de ter ou não ter acesso a uma infra-estrutura tecnológica, no entanto, este é um dos fatores que influenciam a inclusão digital. Ao pensar no significado do termo em si, a Inclusão remete a idéia de inserção, porém Bonilla e Pretto (2001), ressaltam que, "a inclusão digital significa a participação efetiva, onde os indivíduos têm capacidade não só de usar e manejar o novo meio, mas, também, de prover serviços, informações e conhecimentos, conviver e estabelecer relações que promovam a inserção das múltiplas culturas nas redes, em rede".

Já Silveira (2005, p. 434), afirma que a discussão em torno da Inclusão Digital nos leva a definição de seu foco, e aponta três focos distintos nessa discussão: A inclusão voltada para a cidadania, no sentido da busca do direito de interagir e do direito de se comunicar por meio das redes; A inclusão voltada para inserir as camadas mais pauperizadas ao mercado de trabalho, neste caso seria uma inclusão com um foco mais tecnicista, de ações que estão voltadas a meros "cursos de informática", para que os sujeitos pudessem estar inseridos no mercado de trabalho; E por último a inclusão voltada à educação, na perspectiva da importância da formação sócio-cultural dos jovens, na sua formação e orientação diante do dilúvio informacional. Diante da definição do foco, Silveira (2005, p.434) define a Inclusão digital como a universalização do acesso ao computador conectado à Internet, bem como, ao domínio da linguagem básica para manuseá-lo com autonomia.

No entanto, a nossa compreensão quanto ao significado desse termo, nos remete a entendê-la como um potencializador da inclusão social, em que as ações possam superar a lógica assistencialista, de apenas amparar os mais pobres oferecendo acesso sem comprometimento com o social. E se concretiza com projetos que tenham objetivos bem definidos, contemplando ações adequadas a cada contexto específico, pois não acreditamos em um modelo único de inclusão. Nessa lógica, através dessas ações, pode ocorrer a inserção social desses sujeitos, fazendo com que sejam sujeitos sociais capazes de exercer efetivamente a sua cidadania, e de transformar o contexto em que vivem, surgindo assim a inclusão sociodigital.

FUST

O FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), vem sendo discutido e criticado desde o ano de sua criação a partir da Lei Geral das Telecomunicações (Lei nº 9.472), aprovada em 16 de julho de 1997, quando teve início o processo de privatização do monopólio estatal dos serviços de telefonia fixa para garantir que estes chegassem a todos os brasileiros. Ele ficou tramitando no Congresso Nacional até ser finalmente instituído com a Lei No 9.998, de 17 de agosto de 2000 e regulamentado pelo Decreto 3.624, de 05 de outubro de 2000.

Este fundo tem como receita 1% do operacional bruto das operadoras, além de 50% das receitas da Anatel, referentes a concessões de serviços públicos, exploração de serviços privados e direito de uso de radiofreqüência, até o limite de R$700 milhões por ano e garante que dezoito por cento, no mínimo, de sua arrecadação serão aplicados em educação, para os estabelecimentos públicos de ensino (art.5 § 2o decreto 3.624).

Há quase 7 anos da regulamentação da lei que instituiu o FUST e ainda não foi conseguido implementar as condições necessárias para a aplicação dos recursos que o compõem, o que ocasionou em dezembro de 2005 a criação de uma auditoria operacional com o objetivo de verificar as dificuldades, limitações e barreiras que impedem a aplicação dos recursos, que concluiu a falta de uma atuação eficaz do Ministério das Comunicações na definição das políticas, prioridades e diretrizes para aplicação dos recursos.

O FUST já acumula um montante de aproximadamente R$ 5 bilhões, que são utilizados apenas para garantir o superávit fiscal. O que segundo Aguiar (2005), compromete de forma significativa as políticas de universalização de serviços de telecomunicações e, conseqüentemente, coloca o Brasil na retaguarda mundial no que se refere a índices de inclusão digital.

A visibilidade da necessidade de utilização desse fundo, ocasionou no dia 02 de dezembro de 2005 na campanha FUST Já!, uma iniciativa do Comitê para Democratização da Informática que também tem o apoio do Movimento Software Livre Brasil, da Rits, do Ibase, do Coletivo Digital, entre outras instituições, para pressionar o Ministério das Comunicações a tomar providências imediatas para a liberação dos recursos.

Na perspectiva da infra-estrutura, ressaltamos alguns pontos levantados quanto ao FUST, principalmente, a questão da educação. Pois quando foi criado, o FUST para a educação, previa a informatização de cerca de 13 mil escolas públicas do ensino médio e profissionalizante distribuídas por mais de cinco mil municípios. Com esse recurso seria adquirido 290 mil computadores, 46 mil impressoras, entre outros equipamentos, ou seja, em três anos seria investido R$ 1.5 bilhões no combate a exclusão digital. Não podemos negar, que em se tratando de infra-estrutura essa seria uma proposta muita boa, porém, nada disso saiu do papel, ou até mesmo podemos dizer, que nem um centavo saiu dos cofres públicos.

Possível uso do FUST: Projeto UCA

Vários projetos foram criados, com o intuito de utilizar o recurso do FUST como a proposta do senador Aluísio Mercadante (PT-SP), aprovado pelo senado e que está em votação na Comissão de Educação, em caráter terminativo seguindo, caso aprovado, para votação na Câmara dos Deputados. O projeto de lei, obriga que 75% dos recursos do FUST, a partir de 2008 até 2013, sejam aplicados na implantação de acessos para a utilização de serviços de redes digitais de informação. Prevendo a instalação e manutenção, em cada estabelecimento de, no mínimo, um computador com acesso à internet para cada dez alunos, por turno de ensino.

Pelo que podemos perceber o assunto FUST ainda não está esgotado e continuará dando muita discussão como por exemplo se será ele o financiador do projeto UCA, conhecido como laptop de 100 dolares. Uma iniciativa do Governo Federal que tem por finalidade distribuir aos estudantes da Rede Pública do ensino básico brasileiro um laptop voltado à educação, que no seu gênesis iria custar 100 dólares, o que popularizou o projeto, mas que até o presente momento só podemos afirmar que terá um preço abaixo do de mercado o que se faz de condição primordial para o objetivo do projeto, um computador por aluno. O projeto tem como prováveis países participantes: a Argentina, o Brasil, a Líbia, a Nigéria, a Ruanda, e o Uruguai.

A idéia de um laptop de 100 dólares para fins educacionais foi apresentada em junho de 2005 ao então presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo co-fundador do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Nicholas Negroponte, que foi recebida com entusiamos sendo determinada em seguida a criação de um grupo de trabalho para o desenvolvimento de um plano de ação imediata. E quase 2 anos depois esta sendo analisado qual o modelo a ser adotado. Nessa discussão foram apresentados e estão sendo experimentados 3 modelos: Mobilis, da empresa indiana Encore que tem como ponto positivo ser montado no Brasil (RFTelavo), boa mobilidade, tela sensível ao toque e bateria com autonomia de até 6 horas; ClassMate? PC, da Intel, que segundo analistas tem um bom poder de processamento e a vantagem que também seria montado no Brasil (Positivo e CCE); e o X0 desenvolvido pela Organização Não Governamental OLPC (One Laptop Per Children) que até o presente momento é a alternativa mais barata aliada ao fato de ser considerada pelo analistas como o mais inovador tanto do ponto de vista tecnológico quanto na proposta educacional, mas que deve ser importado de Taiwan (Quanta Computers). Além desses 3 modelos, também foi desenvolvido pelo Centro de Inovação da UNESP-Bauru com o apoio das empresas Tecnequip e MSTech o modelo Cowboy, que encontra-se em fase de protótipo. Os aparelhos estão sendo avaliados pelo programa, cuja execução está a cargo de uma ação interministerial que envolve os ministérios da Educação (MEC) e da Ciência e Tecnologia (MCT), juntamente com outros pesquisadores de Institutos Brasileiros e Universidades.

Segundo o relatório da Reunião de Trabalho: utilização Pedagógica Intensiva das TIC nas escolas, com esse projeto

"Alunos e professores brasileiros de diferentes estratos sociais, regiões e localidades, etnias, gêneros e habilidades cognitivas terão acesso a recursos de informática nunca antes propiciados. Formarão uma rede interativa e colaborativa abrindo-se um fluxo de idéias e conhecimentos nunca antes partilhados ao ensino e a aprendizagem, à criatividade e à cultura". (2005; p. 8)

Consolidando a visão do governo do projeto como uma alternativa viável de melhorar a educação juntamente com a oportunidade de amenizar a exclusão digital e seus efeitos no país, assim como, fomenta, em nós brasileiros, a esperança de vermos uma educação de qualidade propiciando a formação de cidadãos plenos articulados com as TIC, porém sabemos que para isso equipamentos se fazem necessários mas não suficientes.

O projeto UCA apresenta como meta 1 computador por aluno, ou seja, dar condições de infra-estrutura de acesso para todos os alunos, priorizando o uso individual, mas não necessariamente exclusivo dos alunos. Fato aqui evidenciado com um negrito, não só pela oportunidade de socialização, mas também pela experimentação vivenciado no nosso grupo de Pesquisa em Educação Comunicação e Tecnologia (GEC) que ao desenvolver o projeto Tabuleiro Digital, que tem como objetivo geral três campos de atuação: Inclusão sociodigital, educação e a utilização do Software Livre, em conjunto com a Faculdade de Educação (FACED/UFBA) idealizou o projeto para o uso individual com a confecção de apenas um banco por computador, e que notou ao longo desses 4 anos a necessidade de confecção de novos bancos, haja vista, a utilização de computador em pares, realizado pela vontade dos próprios usuários em compartilhar, cooperar e socializar o que estão fazendo. (colocar nota de rodapé para o projeto e para o grupo de pesquisa)

A previsão é que até o fim de 2007 os três modelos, CLASSMATE PC, XO e Mobilis, sejam testados pelo MEC para uma análise pedagogica, perfazendo um total de 2840 notebooks educacionais em escolas públicas do Rio Grande do Sul, de São Paulo, de Tocantins e do Rio de Janeiro, havendo possibilidade de abrangência para todo o país. Independentemente da escolha do modelo, é preciso garantir que haja conexão com a internet, não negando, assim, as três condições estruturais básicas para a inclusão descritas por Silveira (2001) e que no caso dos laptops do projeto pode ser garantida pela tecnologia da rede Mesh, um tipo de rede em que os computadores se comunicam entre si sem ter de passar por um servidor central .

Os softwares e os programas que serão utilizados no projeto UCA são pontos fundamentais, principalmente para nós educadores. Os sistemas operacionais sugeridos foram Linux (Metasys, baseado no SUSE Linux) ou Windows XP para o Classmate, o Linux (Fedora) para o Mobilis e o Linux (RedHat? ) para o XO. Acreditamos ser importante, para o contexto atual de fomento tecnológico a adoção de software Livre, pois a possibilidade de acesso aos códigos fontes está intimamente associada às inúmeras possibilidades tanto de independência de fornecedores centralizados que dominam o mercado, quanto na ampliação de uma rede de produção colaborativa, dimensão fundamental para a educação.

A quantidade de programas que estão sendo criados para os laptops, principalmente o XO que é o mais referenciado, está crescendo a cada dia, mas a maioria continua em sigilo. Alguns programas referenciados como o Gcompris de origem francesa que contém uma série de atividades educacionais nas áreas de matemática, ciências e geografia e o Childsplay que inclui vários jogos de matemática, letramento etc, estão sendo adaptados, o que só possível devido ao acesso do código fonte, e modificados para a língua portuguesa e podem ser testados em múltiplas plataformas, outros exemplos são o "Editor Musical" que permite aprendizagem e composição de música , o editor "FACIL" que é um editor de páginas Web e a "Oficina de Desenho" um espaço colaborativo para criação de desenhos, que estão sob a responsabilidade do LSI, um Laboratório da Escola Politécnica da USP, para a migração do java para a linguagem de programação padrão do OLPC: Python. (colocar no rodapé o site)

Apesar dos vários questionamentos e incertezas que cercam o projeto, que não são poucos, é notório que em se tratando de infra-estrutura essa é uma proposta muita boa. O que deve ser ressaltado é que ela pura e simplesmente não é suficiente, é preciso priorizar processos de formação e de construção de cidadania, para isso a utilização desses laptops não pode ser apenas a transposição da mídia impressa para a digital, isso seria fadado ao fracasso, é preciso mais... é preciso criar a cultura tecnológica e desenvolver aulas mais interessantes, interativas e divertidas, ampliando a capacidade de comunicação, acesso de informação e formação de autores sociais. Precisa ter como horizonte a preparação de cidadãos plenos para a interação com o universo de informação e comunicação sem um modelo que reduz tudo ao mesmo, para poder de fato promover a inclusão sociodigital. O que acreditamos que é de ordem política e que compete principalmente ao governo, pois quando existe vontade política, os meios são viabilizados e grandes projetos podem ser implementados de forma consistente.


Darlene Almada é estudante de pedagogia da UFBA e bolsista de Iniciação Científica do CNPq no projeto Políticas Públicas Brasileiras em Educação e Tecnologia da Informação e Comunicação.

Joseilda Sampaio é estudante de pedagogia da UFBA e bolsista pIBIC da FAPESB no projeto Inclusão Digital: articulação dos nós da rede.

Maria Helena Bonilla é professora adjunto da Faculdade de Educação da UFBA. Autora do livro Escola Aprendente: para além da sociedade da informação, pela editora Quartet.

Nelson Pretto é professor e Diretor da Faculdade de Educação da UFBA. Autor, entre outros de SMOG: crônicas de viagens, pela Editora Arcádia e Uma Escola sem/com futuro, pela Papirus. Bolsista de pesquisa do CNPq.

Referências

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AQUINO, Miriam. Fust: só falta a Anatel contratar os serviços para os deficientes auditivos. Disponível em http://www.sulradio.com.br/destaques/destaque_16424.asp. Acesso em 10 de abril de 2007

Blog do Digital Media Universe Disponível em http://digitalmediauniverse.blogspot.com/atom.xml . Acesso em 20 de abril de 2007.

BONETI, Lindomar Wessler. Educação Inclusiva ou Acesso à Educação? In: 28ª Reunião Anual da Anped - 40 anos de Pós- Graduação em Educação no Brasil: produção de conhecimentos, poderes e práticas . Caxambu: Anped, 2005. (Anais). Disponiveis em:< www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt11/gt11153int.rtf >.Acesso em 26 de Fevereiro de 2007.

BONILLA, Maria Helena Silveira. Escola Aprendente: para além da sociedade da informação . Rio de Janeiro: Quartet, 2005.

BONILLA, Maria Helena Silveira; PRETTO, Nelson de Lucca. Sociedade da Informação: democratizar o quê? Jornal do Brasil, 2001. Disponível em: http://www.faced.ufba.br/~bonilla/artigojb.htm . Acesso em 20 de fevereiro de 2007

Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações - FUST. Disponível em http://www.anatel.gov.br/index.asp?link=/biblioteca/editais/fust/default.htm . Acesso em 10 de abril de 2007.

Relatório da reunião de Trabalho: Utilização Pedagógica Intensiva das TIC nas Escolas. Realizado pelo Ministério da Educação: Secretária de Educação a Distancia. São Paulo - SP / EPUSP-LSI, 14 A 15 de dezembro de 2005. Disponível em http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/relatoriolaptopdezembro_seed.pdf . Acesso em 03 de abril de 2007.

RIFKIN, Jeremy. A era do acesso: a transição de mercados convencionais para networks e o nascimento de uma nova economia . Trad. Maria Lucia G. L. Rosa. São Paulo: Makron Books, 2001.

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SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão Digital: a miséria na era da informação . São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.

SILVEIRA, Sérgio Amadeu. Inclusão digital, software livre e globalização contra-hegemônica. In: Seminário temático para 3ª Conferencia Nacional de C, T&I, num. 20, junho 2005. Disponível em: < http://www.cgee.org.br/arquivos/p_20_1.pdf >. acesso em 11 Jan. 2007 .

Pilotos do Projeto UCA. Disponível em http://www.pilotosdoprojetouca.blogspot.com/ . Acesso em 15 de abril de 2007

TIC Domicílios e usuários 2006: Uso da internet julho/agosto 2006. Disponível em http://www.cetic.br/usuarios/tic/2006/rel-int-01.htm . Acesso em 28 de março de 2007.

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