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"As drogas, mesmo o crack, são produtos químicos sem alma: não falam, não pensam e não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes."
Antonio Nery Filho

Conexões: CAPS Gey Espinheira dialoga com moradores de Pirajá

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Identificar o que a população do bairro histórico Pirajá pensa e sente na pele, especialmente quando o assunto é a relação juventude e uso de drogas. Para saber disso, a gerência do CAPS AD III ia Gey Espinheira convidou para participar do I Conexão Favela, o sociólogo Liu Nzumbi e o estudante Sostenes Ribeiro, ambos que, assim, como a maior parte dos presentes, residem e conhecem a realidade de quem mora no bairro.

"Há muito tempo que queremos conversa com a população a fim de saber qual a realidade econômica e social da região e a primeira coisa que pensamos quando realizamos um evento como este é o de pedir licença para entrar no território", explicou o gerente do CAPS, o psicólogo João Martins, durante palestra em que também falou sobre a história do centro, inaugurado a cinco meses,fruto de uma necessidade identificada a quatro anos pelo Ministério Público, sobre a atenção à saúde de crianças e jovens usuárias de drogas no estado.

Parcerias - Sobre a filosofia do centro, João destacou que há o cuidado em não adotar uma perspectiva moral sobre o público atendido no serviço. Ele também reforçou o propósito em criar um conselho local para regulação do serviço e estabelecer parcerias com organizações da comunidade local para reinserção social das crianças e jovens em tratamento.

"Pretendemos não deixar acontecer a criação de pequenos guetos dentro do serviço, pois isso seria a exclusão da exclusão, mas queremos sim, saber que podemos integrar nossos jovens nas atividades culturais e sociais da comunidade, da mesma forma em que teremos o compromisso em ajudá-los no encaminhamento e esclarecimento quanto aos serviços municipais de saúde", esclareceu Martins.

Diagnóstico - Após a apresentação do serviço, o jovem Sostenes Ribeiro explicou quais temores fazem parte do cotidiano dos jovens moradores de bairros populares como Pirajá. Para ele, os embates entre a polícia e o tráfico local, somando-se à falta de infra-estrutura e de oportunidades são as maiores preocupações. "Sentir na pele é ter o receio de sair da 'boca-de-fumo' e ter policiais em busca de traficantes, até mesmo porque a droga não é vendida em farmácia", sintetizou o estudante.

A mesma preocupação quanto às ações da segurança pública no bairro foi pontuada pelo sociólogo Liu Nzumbi, que traçou um panorama da presença dos serviços públicos quando se trata da questão das drogas. "Nós temos aqui a necessidade de dizer que, durante muito tempo, o único tratamento dado [ao usuário] é, de fato, a cadeia ou caixão", sentenciou Nzumbi, ao refletir sobre a propaganda veiculada ano passado por empresas do setor de comunicação.

Novas Conexões - Por outro lado, o sociólogo elogiou a iniciativa do CAPS e considerou que o serviço tornar-se-á uma opção estratégica para promover a mudança desta realidade. "Este é um momento especial, pois temos a oportunidade de discutir com profissionais da rede pública de saúde", afirmou o sociólogo, que concluiu sugerindo a possibilidade de que o projeto continue através da realização de encontros intinerantes.

De acordo com o gerente do CAPS, o projeto terá continuidade, num primeiro momento, a fim de que lideranças de outros bairros do Distrito São Caetano-Valéria também possam expor suas demandas.

Paula Boaventura


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