Férias e Diversão: Hora de Balancear
por Daniela Lima em
O coletivo Balance de redução de riscos e danos vem atuando em festas e festivais de música eletrônica desde 2006 com um conjunto de ações educativas e de saúde, com o objetivo de diminuir os efeitos negativos decorrentes do consumo de substâncias psicoativas. Participam do coletivo estudantes e profissionais de diversas áreas como psicólogos, antropólogos, médicos, entre outros.
A principal ação do Balance acontece no festival de cultura alternativa, Universo Paralello, que este ano foi realizado no município de Jaguaripe, BA entre os dias 28/12 de 2009 e 3/01 de 2010. O festival contou com a presença de cerca de dez mil pessoas de todo o Brasil e de outros países, sendo a principal característica do evento a constante presença da música eletrônica em 3 pistas de dança que funcionam por 24hrs. O público permanece no festival em campings através de uma estrutura criada para a festa.
Para a ação no Universo Paralello o Balance conta com 3 espaços: o Info Stand, o S.O.S Bad Trip e o Posto de Saúde. No Info Stand a público pode ter acesso a informações sobre as substâncias e sobre Redução de Danos. No S.O.S Bad Trip os participantes da festa que estiverem passando por uma experiência psicodélica ruim, conseqüente do uso de LSD, podem contar com atendimento de um profissional do Balance através de acompanhamento terapêutico (AT). O Posto de Saúde do festival está sempre acompanhado por um membro do Balance para informações e atendimento (AT).
Na ação de 2010 o coletivo elaborou um Guia para orientação dos profissionais do posto de saúde com o objetivo de ampliar os conhecimentos acerca das substâncias psicoativas mais usadas na festa (LSD e “ecstasy”) e do atendimento médico nas situações e demandas próprias do festival. O objetivo do guia não é só levar a equipe do posto o conhecimento sobre a substância e seus efeitos, ma também tentar contextualizar a cultura da qual esse uso emerge e trazer a compreensão de que uma intoxicação aguda muitas vezes demanda atendimento psicoterápico e não somente medicamentoso.
Uma das estratégias de redução de danos desenvolvidas para o festival foi a realização de testes dos comprimidos de ecstasy. O serviço gratuito de análise, que permite detectar algumas substâncias, com o objetivo de que o usuário possa saber a composição das substâncias que decidirem usar. Dessa forma a equipe do serviço de análise pode orientar o usuário para que haja um uso menos danoso e arriscado para a substância que vai consumir.
O relatório da ONU sobre drogas de 2009 apontou que em cerca de metade dos comprimidos testados em países da Europa não foi encontrado MDMA ou outra substância análoga. As alterações no ecstasy, droga produzida em laboratórios clandestinos, causam riscos aos usuários que muitas vezes esperam um determinado efeito e podem apresentar reações inesperadas pelo consumo de substâncias desconhecidas.
Até uns anos atrás a comercialização de produtos químicos de investigação não eram comum, mas instituições especializadas como o Plano Nacional Sobre Drogas da Espanha afirmam que somos incapazes de dimensionar esse fenômeno nos dias de hoje. Uma das razões pelas quais os consumidores passaram a aproximar-se dessas outras substâncias pode estar na falta e dificuldade para a compra de MDMA (“Ecstasy”).
Em 3 de Outubro, um Californiano de 18 anos morreu ao consumir o que seria supostamente um 2cb-fly, uma nova substância resultante de combinações moleculares criadas em laboratórios. O site do Energy control, grupo envolvido com redução de danos na Espanha, acredita que houve contaminação ou má etiquetamento do produto que não continha 2cb-fly mas sim uma outra substância denominada Bromo-Dragonfly (cuja dosificação e efeitos pouco tem a ver com o 2cb-fly).
O teste para comprimidos de ecstasy tornam-se importantes medidas para reduzir riscos e danos no uso desta droga. As alterações dessa substância trazem riscos ao consumidor por estarem fazendo uso de algo desconhecido e que pode trazer efeitos inesperados ou não desejados. Alguns usuários podem consumir uma pastilha acreditando que seja ecstasy, por exemplo, e ser uma outra droga sintética com efeitos totalmente diferentes.
Em 2008, 13 novas substâncias forma notificadas oficialmente pela primeira vez na União Européia através do sistema de alerta rápido. Das novas substâncias 11 eram sintéticas (criadas em laboratórios) e 2 correspondem a plantas. O balance já alerta: “Nem toda surpresa é boa”. Diante de substâncias novas ou já conhecidas, é importante que o usuário esteja atento e pratique estratégias que miniminizem os riscos e danos.