CETAD UFBA

"As drogas, mesmo o crack, são produtos químicos sem alma: não falam, não pensam e não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes."
Antonio Nery Filho

Efeitos do uso do crack são debatidos em audiência na AL

por Paula Boaventura em

A repressão policial ao trânsito de insumos para refino da cocaína entre os países produtores de coca e o Brasil é um dos aspectos que motivou o aumento do consumo de crack no país, afirmou o secretário estadual de Segurança Pública, César Nunes, durante audiência pública realizada na última terça (04), organizada pelo deputado Isaac Cunha, da Comissão de Saúde e Saneamento da Assembléia Legislativa (AL).

O secretário também falou das mudanças de estratégias do crime organizado, que através do “tráfico-formiga”, importam a pasta base de coca de países produtores como a Bolívia, onde afirmou haver uma super oferta devido à lei que permite o cultivo tradicional . "Estima-se que hoje existam 40 mil hectares de plantação de coca na Bolívia, Peru e Colômbia. Em 2009, a polícia baiana apreendeu 873kg de cocaína e 543Kg de crack".

Riscos Sociais - Outro ponto abordado na audiência foram os aspectos clínicos e sociais do uso do crack. O psiquiatra Antônio Nery Filho, coordenador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD), chamou à atenção sobre o foco do encontro, defendendo que mais importante que discutir sobre a substância é discutir sobre as pessoas que usam indevidamente e as causas que as levam a consumir não só o crack, como outras substâncias psicoativas. “Reconheço que o crack é uma substância que produz graves efeitos, mas precisamos identificar quem é o usuário, como é sua vida e quais são seus motivos”, afirmou.

Para o psicólogo João Martins, representante técnico da SESAB, a vulnerabilidade social é ao mesmo tempo causa e consequência do uso de crack. Segundo ele, a diminuição de apetite e da sensação de frio são uns dos efeitos da substância que favorece o seu uso entre moradores de rua. Entre os riscos enfrentados pelos usuários, ele alerta para os de origem social, pois as mortes das quais tem conhecimento no serviço público de saúde são associadas à violência. “Não conheço ninguém que tenha morrido por overdose da droga”, afirmou.

Presença Evangélica - A participação de lideranças religiosas, entretanto, foi marca registrada na audiência pública. Diretores de comunidades terapêuticas evangélicas, entre outros religiosos, alertaram sobre a responsabilidade da família nas estratégias de prevenção para os jovens. Para o pastor Fábio Marcondes, é fundamental que os pais recuperem o lugar de referência junto a seus filhos. Pastor Manassés, fundador do centro que leva seu nome, relatou sua experiência pessoal enquanto pai de um ex-usuário de drogas e considera que a estratégia mais importante é a prevenção. “Se não houver uma política de prevenção, não haverá centros de tratamento e nem comunidades terapêuticas que atendam à população que precisa de tratamento”, concluiu.

Já os pastores Isidório e Juscelino, coordenadores das comunidades Doutor Jesus (Salvador) e SerLivre? (Jequié), respectivamente, cobraram das autoridades públicas presentes, recursos para o funcionamento das comunidades terapêuticas. Ao som dos timbais e coro dos usuários do serviço Doutor Jesus, o pastor Isidório cobrou uma superintendência de álcool e drogas e o pastor Juscelino criticou a não participação de líderes religiosos na formulação de políticas públicas para atenção.

Ações do Governo - A superintendente adjunta de Direitos Humanos da Secretaria da Justiça (SJCDH), Cida Tripodi, apresentou as ações do governo estadual, em parceria com o governo federal e os municípios da região metropolitana (Salvador, Camaçari, Lauro de Freitas e Simões Filho), contidos no plano estadual para o Programa Ações Integradas na Prevenção ao Uso de Drogas e Violência. Segundo a superintendente, já estão programados um investimento de cerca de 600 mil reais para as ações que incluem a implantação dos projetos Lua Nova e Terapia Comunitária.

fonte: CETAD Observa

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