APB discute modelos de atenção a usuários de drogas em sessão científica
por Paula Boaventura em
Profissionais da área de saúde mental reuniram-se na sede da Associação Médica da Bahia, no dia 31 de agosto, para participarem da VI Sessão Científica da Associação Psiquiátrica da Bahia (APB), que abordou o tema "Toxicomanias: o que fazer?".
A sessão foi organizada pelo psiquiatra e coordenador adjunto do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD/UFBA), George Gusmão, que trouxe como convidados para a mesa redonda, o psiquiatra Esdras Cabus (CETAD/UFBA), o também psiquiatra e coordenador da Aliança Redução de Danos Fátima Cavalcante (ARDFC/UFBA), Tarcísio Andrade, e a psiquiatra Mara Chistina, que coordenou durante cerca de 20 anos a clínica de recuperação Bomviver.
De acordo com Gusmão, o objetivo do encontro foi apresentar as especificidades de três diferentes abordagens e estratégias de atenção e tratamento médico para usuários de álcool e outras drogas, neste caso, o ambulatorial, a internação compulsória e as práticas de redução de danos.
O modelo do CETAD foi apresentado por Cabus, que explicou como se estabelece o trabalho desenvolvido por psiquiatras e psicólogos no atendimento clínico a pacientes que, segundo ele, são diferentes do perfil da maioria da população que faz uso de substâncias psicoativas. A psiquiatria psicodinâmica e a psicoterapia psicanalítica são, segundo Cabus, as duas correntes teóricas que embasam os trabalhos dos psiquiatras e psicólogos, respectivamente, na clínica do CETAD.
Dentro da lógica da abstinência enquanto fim exclusivo de tratamento, a internação compulsória, assim como as características desta modalidade de atenção, foi o assunto explanado por Mara Christina. A psiquiatra, que tem mais de 20 anos de experiência no tratamento de usuários de substâncias psicoativas destacou as principais dificuldades enfrentadas quando os pacientes não aderem ao tratamento oferecido pelas clínicas de internação, entre elas o retorno ao uso abusivo após o tratamento, além da falta de qualificação de muitos profissionais de saúde em saber lidar com as reações, muitas vezes agressivas, do paciente internado.
Mara Christina afirmou que o perfil do usuário que é internado em clínicas de recuperação, em sua maioria alcoolistas, tem se modificado dado o aumento de internação de usuários de crack.
Tarcísio Andrade foi o terceiro convidado da mesa a se apresentar e trouxe sua experiência enquanto coordenador de um programa de redução de danos. De acordo com Andrade, a estratégia - adotada no estado já há cerca de quinze anos, inicialmente com o objetivo de reduzir e prevenir os casos de contaminação com HIV -, não se limita a uma orientação política e nem a um modelo de atenção e tratamento.
Traçando o histórico da redução de danos a partir das estratégias orientadas a usuários de drogas injetáveis e ampliando-se, nos últimos anos, a usuários de outros tipos de drogas, como o álcool, por exemplo, Andrade define a Redução de Danos como um modelo participativo de atenção biopsicossocial que respeita os limites e liberdade de escolha dos usuários de drogas.
Após as palestras, o coordenador da área técnica de saúde mental da SESAB, Iordan Gurgel, defendeu a participação da APB na elaboração de projetos que contribuam para a construção de uma política pública estadual articulada com outros segmentos do governo e da sociedade civil, específica para a área de álcool e outras drogas.
A próxima sessão científica da APB será no próximo dia 27 de setembro, às 20 horas, onde serão discutidos modelos de tratamento para transtornos alimentares. As reuniões científicas da APB são abertas ao público e acontecem na última terça-feira de cada mês, na Associação Bahiana de Medicina.
fonte: CETAD Observa