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"As drogas, mesmo o crack, são produtos químicos sem alma: não falam, não pensam e não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes."
Antonio Nery Filho

Consultório de Rua faz prevenção em Salvador

por Paula Boaventura em

Faz dois meses que, nas tardes de terça-feira, a equipe do Consultório de Rua de Salvador segue numa kombi da prefeitura municipal de Salvador para intervenções na Ladeira da Preguiça. Na tarde do dia nove de dezembro não foi diferente.Um momento especial de confraternização entre a equipe e as crianças que participam das atividades promovidas pelos profissionais do projeto. "A idéia da festa partiu delas e, com a nossa orientação, foi organizada por elas", explica a enfermeira América Carolina.

Aproximadamente vinte crianças que participam das intervenções do Consultório de Rua na Ladeira da Preguiça dividiram-se em equipes menores que ficaram responsáveis pela escolha do espaço da festa, pelos convites e pelos doces, bolo e refrigerantes, tudo adquirido com o apoio financeiro do projeto. "Isso é muito bom, pois temos responsabilidade e nos sentimos importantes com isso", afirma Laura, uma menina de 9 anos que participou da comissão dos convites.

No caminho, as integrantes explicam alguns cartazes confeccionados para decorar a festa. "Aqui estão os trabalhos produzidos por eles nas oficinas, ao longo desses dois meses, nas quais aproveitamos o interesse delas para ensinar sobre como cuidarem de sua saúde", afirma a estagiária de psicologia Gilcélia Santos. Através das oficinas e das brincadeiras conduzidas pela equipe, as crianças que moram e circulam pela Ladeira da Preguiça aprendem mais sobre cuidados com a saúde.

Nesta mistura de atividades lúdicas e de prevenção, a equipe do Consultório de Rua começa a consolidar seu espaço numa das principais áreas de consumo de drogas na cidade. A Ladeira da Preguiça dá acesso ao Pelourinho e a cidade baixa e, pela sua localização, é uma das principais vias de circulação de usuários de drogas em situação de rua na cidade.

A coordenadora da equipe, Adriana Prates, afirma que o trabalho desenvolvido com as crianças visa a prevenção ao uso indevido de drogas, já que a maioria delas não são usuárias, mas este ainda não é o objetivo principal da equipe no território. "O público que a gente quer atingir não é exatamente esse, mas essas crianças vivem aqui no território, estão vulneráveis ao ambiente, então trabalhar com elas é uma forma da gente adquirir uma legitimidade para transitar, para entrar nos lugares mais difíceis e isso é processual. Por outro lado, tomamos muito cuidado com a questão dos estereótipos. Não falamos em drogas, mas, se o assunto vem,temos o cuidado em não reforçar o estereótipo e também não positivar essa imagem a ponto de servir de modelo, pois o usuário muitas vezes convivem diretamente com elas, são da família delas"

Com a participação de integrantes da equipe do De Cara na Rua, parte da equipe animou as crianças e seus responsáveis, na mesma medida em que passou orientações sobre temas como higienização bucal. "É a pedagogia do desejo", explica o músico Juracy do Amor, um dos profissionais do De Cara na Rua, sobre uma das estratégias utilizadas com as crianças. "Naturalmente, os jovens, procuram grupos de aceitação e, em alguns grupos, o uso de drogas é uma forma de inclusão. No entanto, se esse grupo tiver o desejo, por exemplo, de praticar atividades de circo, o desejo muda. Através da arte, do esporte, a equipe busca plantar essa semente de desejo no jovem, para que ele busque sempre um referencial positivo".

Enquanto a festa acontecia na sede da associação de moradores da Ladeira da Preguiça, outra parte da equipe distribuía preservativos entre os usuários e os orientava quanto a práticas de redução de danos. "A rua ela é muito dinâmica, é muito desafiadora e você tem que lidar com o que vem. O trabalho que desenvolvemos agora foi a forma que nos permitiu entrar no território e de, aos poucos, ir acessando o público-alvo, que são os usuários de drogas em situação de vulnerabilidade social", analisa Adriana Prattes.

fonte: CETAD Observa

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