Estudo da soroprevalencia da infecção por HIV em população carceraria
por MARTINS, Jose Ricardo Pio em
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A população carcerária, dado sua especificidade, tem sido considerada como um grupo de grande vulnerabilidade para a infecção por HIV. Buscou-se neste estudo transversal, através de participação voluntária, conhecer a prevalência da infecção por IDV e AIDS nos dois presídios da cidade de Sorocaba, cuja população era de 1.065 homens. Encontrou-se uma prevalência de 12,5% da infecção por HIV na população estudada, nível este considerado intermediário, quando comparado com estudos anteriores realizados no país. Verificou-se uma associação entre o maior risco de infecção ao se analisar os fatores sócio-demo gráficos relacionados a naturalidade e a idade. Em relação a história de vida carcerária, observou-se que as variáveis "número de encarceramentos prévios na vida e o número de estabelecimentos penais pêlos quais os indivíduos já passaram, aumentam o risco de infecção de forma estatisticamente significativa. O tempo de encarceramento na vida e o tempo de encarceramento atual, mostram maiores prevalências na medida em que o tempo de encarceramento aumenta. Quanto ao tempo de condenação, encontrou-se maior prevalência entre aqueles que tinham menores condenações. Os crimes que .se mostraram associados ao maior risco de infecção foram aqueles relacionados ao tráfico e ao uso de drogas. As exposições que mostraram aumentar o risco de infecção foram o uso de drogas injetáveis e as práticas sexuais com mulheres de múltiplos parceiros, prostitutas, homossexuais prostitutos ou de múltiplos parceiros e parceria sexual com usuário de drogas. Verificou-se ainda que 72,2% dos detentos, já havia feito teste anti- HIV anteriormente, o que mostra o acesso ao exame nessas instituições. Constatou-se que os detentos têm percepção do risco da infecção por HIV, pois dentry os que referiam-se em risco verificou-se razão de prevalência de 5,17. A maioria dos detentos infectados mantiveram relações sexuais enquanto presos sendo 80,0% das vezes sem uso de preservativos além de ter-se registrado que 47,1% destes, afirmaram ter tido alguma manifestação sugestiva de D.S.T., nos últimos 5 anos. O uso de maconha durante encarceramento foi referido por 79,1 % dos infectados, enquanto que o uso de cocaína inalada foi de 47,7%, de cocaína endovenosa 19,8% e de crack 27,9%. Verificou-se ainda que mais da metade deste detentos têm filhos menores de 10 anos e portanto em risco de estar infectados ou doentes. Os antecedentes mórbidos dos detentos infectados mostrou intercorrências numerosas, chamando atenção a referência de pneumonias e moniliase em 14,9% e 13,8% respectivamente, além da referência de13,8% de tuberculose. O exame clínico, mostrou como principais alterações a poliadenopatia e hepatoesplenomegalia, alterações dennatólogicas, presença de moniliase oral e perda de força muscular, além de 14,9% dos detentos apresentarem lesões indicativas de D.S.T.. Em função destes achados, classificou-se estes detentos segundo os critérios do C.D.C.-1987, como 12,6% pertencentes ao Grupo TI, 24,1 % como Grupo IIT e 63,2% como sendo do Grupo IV ou seja, a maioria dos detentos já apresenta sinais ou sintomas sugestivos da Síndrome da Imunodeticiência Adquirida. Conclui-se então que a prevalência de AIDS neste mesmo grupo é de 6%, valor este 286 vezes maior que na população geral