A(s) pedagogia(s) com jovens em contextos de uso de drogas
por GIRON, Maria Francisca Rodrigues em
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O presente trabalho deriva de uma pesquisa cujo objetivo central foi o de discutir que pedagogia(s) são utilizadas para abordar e tratar jovens em contextos de uso de drogas, os quais se constituem como dependentes químicos, bem como investigar como a educação se articula nessas relações. A questão central da investigação é: que concepção de educação sustenta tais ações? Ela produz pedagogias, ou seja, intervenções que possibilitem produzir outras trajetórias para esses jovens que não a da morte anunciada? Defendo a idéia de que a educação abre perspectivas importantes para o desenvolvimento humano, tendo em vista que os sujeitos se constituem nas e pelas interações sociais e históricas. No estudo dos jovens e sua exposição ao "negócio da droga" - eufemismo para "negócio da morte" -, foi possível perceber que o que se chama de "educação", no âmbito das ações do Estado em relação aos "usuários de drogas" ou "dependentes químicos", configura-se como política de devolução do problema aos próprios dependentes. O trabalho desenvolvido pelas ONGs para Redução de Danos não afastam os jovens das drogas, posto que esse não é seu intento. Sua proposta é educativa e gera uma pedagogia cuja perspectiva, concretizada pelos redutores de danos, não faz intervenção direta no prognóstico de morte anunciada pelo uso de drogas, mas coloca em ação a estratégia de Redução de Danos que tem em vista a preservação da vida e de sua consciência sobre ela. Foi importante, nesse processo, estabelecer múltiplas interações entre juventude(s), drogas, redução de danos e outras propostas de recuperação frente às ações educativas possíveis neste momento histórico. No que toca ao campo empírico, investiguei a ONG Indústria da Solidariedade: compromisso com a vida - ISO, localizada em Imbituba - Santa Catarina, que atua também em municípios próximos. Com uma perspectiva etnográfica, acompanhei os redutores de danos em suas abordagens com jovens e realizei observação participante, tanto das abordagens como das intervenções em suas ações educativas. Além disso, observei como se expressam, na comunidade, a inserção e a aceitação da proposta de Redução de Danos. Registrei o cotidiano da ONG por meio de um diário de campo e coletei depoimentos de usuários de drogas. O segundo campo empírico foi o Centro de Convivência Ecologia do Ser, onde acompanhei - com observação, caderno de campo e entrevistas com a coordenadora da proposta - jovens internos desde o período de desintoxicação até o processo de reinserção social, quando colocaram em ação metas, como o retorno ao estudo, cursos e a prática de esportes. Esses jovens escreveram depoimentos, nos quais descreveram suas trajetórias até então e o significado da droga em suas escolhas de vida. Do cruzamento dessas várias experiências, resultou a compreensão da educação como possibilidade aberta para o ser humano, para ter outras perspectivas de relacionar-se socialmente, de ser capaz de interpretar e conduzir a própria história em qualquer época da sua vida, ou seja, de ter um futuro aberto. Concluo evidenciando os limites da estratégia de Redução de Danos como política estatal e as possibilidades pedagógicas presentes em intervenções que viabilizem outras trajetórias para os jovens em contextos de uso de drogas, que não a da dependência química.