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"As drogas, mesmo o crack, são produtos químicos sem alma: não falam, não pensam e não simbolizam. Isto é coisa de humanos. Drogas, isto não me interessa. Meu interesse é pelos humanos e suas vicissitudes."
Antonio Nery Filho

Maconha para uso medicinal é tema de debate no Congresso

Da Redação

Imagem: Agência Câmara


Não somente os malefícios, mas também os benefícios da maconha para a saúde foram discutidos na última quinta (26), no Congresso Nacional, em audiência pública realizada pela Comissão de Seguridade e Família da Câmara e transmitida ao vivo na internet pela TV Câmara.

De acordo com os deputados Roberto de Lucena (PV/SP), Paulo Rubem Santiago (PDT/PE) e Eleuses Paiva (PSD/SP), o evento buscou trazer ao Congresso Nacional um debate que atualmente está na pauta tanto do Judiciário quanto da sociedade brasileira.

Benefícios da Maconha

Convidado para relatar sua experiência com pesquisas sobre uso medicinal da cannabis, o neurobiólogo Renato Malcher Lopes, afirmou que a planta possui potencial terapêutico inquestionável , sobretudo no alívio da dor e sofrimento de pacientes.

“As moléculas desta planta agem no organismo do ser humano, atuando na redução de dores intratáveis (como a causada pelo câncer ósseo), de enjôos e de espamos causados pela esclerose múltipla, explicou.

Favorável à autorização de pesquisas sobre aplicação medicinal da cannabis no país, Malcher Lopes afirmou que inúmeros dados científicos atestam o fato dela possuir substâncias que, “isoladas ou isoladas em conjunto, podem aliviar sofrimentos que outros remédios não podem, e com efeitos colaterais relativamente amenos”.

Desconfiança e Cautela

Estes argumentos foram vistos com desconfiança e cautela por parte dos demais debatedores, como foi o caso do escritor Gideon dos Lakotas.

O escritor acredita que outros interesses (além do científico) é o que motiva a discussão sobre o uso medicinal da maconha. “Há por detrás disso, interesses políticos em obter votos, interesses por parte de traficantes”, afirmou.

Já o deputado federal Fernando Francischini acredita que o uso medicinal da cannabis é positivo, mas considera que aqueles que militam a favor da legalização da droga não buscam realmente este objetivo específico.

Porta de Entrada ou porta de saída?

Outra discussão girou em torno da influência da maconha sobre outras substâncias ilícitas.

Lakotas afirma que a cannabis é a principal porta de entrada para o uso de drogas potentes. “Acompanho milhares de casos de pessoas que são dependentes químicas de drogas potentes e que começaram usando maconha.”

Já Malcher Lopes define esse pensamento como mito. Segundo ele, a droga pode funcionar, inclusive, como a porta de saída, ajudando a minimizar até os efeitos da crise de abstinência de álcool.

“Foi comprovado cientificamente, inclusive no Brasil, que a cannabis também pode ser usada como uma estratégia terapêutica de transição para a saída de drogas pesadas como o crack, a cocaína e a heroína.”, afirma o pesquisador.

Ainda assim, Lopes adverte que os benefícios da cannabis só podem ser obtidos a partir da planta cultivada especialmente para fins medicinais. “A planta para uso medicinal não deve ser confundida com a que é vendida pelo traficante, porque o que eles vendem nem é planta, é um macerado de coisas”

Maconha x Esquizofrenia

E a maconha desencandeia esquizofrenia? Num dos pontos mais polêmicos do debate, pode-se ouvir discursos tanto de benefícios quanto de malefícios sobre a relação da substância com o transtorno psíquico.

Segundo Malcher Lopes, preparada para fins medicinais, ela pode ser um auxiliar terapêutico no tratamento da ansiedade que acompanha o desencandeamento da esquizofrenia, mas, nesse caso, somente a cannabis para fins medicinais, pois o excesso de THC contido na droga comercializada para uso recreativo pode causar danos.

Já a psicóloga Marisa Lobo afirmou que dentro de sua experiência clínica, pôde observar casos de desencadeamento de esquizofrenia e crise amotivacional devido ao uso a maconha.

Contexto Brasileiro

“Os nossos jovens não estão preparados para lidar com a crise amotivacional que a maconha provoca”, afirma a psicóloga, que considera este aspecto como determinante para a não liberação do uso medicinal, pois também não há como comparar o desenvolvimento do Brasil com o de países como Holanda e Estados Unidos.

Numa perspectiva mais consensual, o deputado Fernando Francischini avalia a possibiidade da autorização do uso exclusivamente medicinal, contanto que haja o controle para que não se legalize outras formas de uso. “Liberar o uso medicinal da maconha de uma forma que também permita seu uso recreativo, é um grande erro que podemos cometer”, adverte o deputado.

Já o deputado Paulo Teixeira argumenta que a proibição de pesquisas no Brasil é justificada pelo preconceito, uma vez que esta mesma reserva não se observa em relação aos opiáceos para fins medicinais. “O não desenvolvimento da ciência devido ao preconceito só acontece em países atrasados. Nos países desenvolvidos, eles não tem esse tipo de problema”, setencia Teixeira.


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