Salvador comemora Luta Antimanicomial com música e protesto

No passeio, o palco. No microfone, canto e protesto. A comemoração do Dia Nacional da Luta Antimanicomial em Salvador, no último sábado (19), não teve trio, não teve marcha, mas nem por isso deixou de ser celebrado, em frente ao Farol da Barra, com muita música, dança, arte e, para não fugir à regra, manifestações em prol da consolidação de um modelo antimanicomial de atenção a pessoas com transtorno psíquico e que consomem álcool e outras drogas.

Debaixo de chuva e de forte ventania, cerca de 150 pessoas, a maioria de usuários, familiares, profissionais e estudantes vieram prestigiar o evento organizado por entidades como a Associação Metamorfose Ambulante (AMEA), o GT Eduardo Araújo, O Núcleo de Estudos pela Superação dos Manicômios, o Coletivo Antimanicomial Estamira e o Conselho Regional de Psicologia Bahia-Sergipe.

Atenção a usuários de álcool e outras drogas no SUS

Na pauta, reivindicações como mais recursos para o funcionamento adequado e suficiente dos Centros de Atenção Psicossociais, programas sociais de geração de renda e inclusão de usuários no mercado de trabalho, tratamento aberto e humanizado para usuários de álcool e outras drogas.

“As pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas estão sendo empurradas para as prisões, para os manicômios, para as comunidades terapêuticas, em função do sucateamento e insuficiência da rede de atenção que tem a obrigação de oferecer serviço de qualidade que correspondam à demanda explícita de tratamento de milhares de famílias”, reclamou o integrante do NESM, Sérgio Pinho.

Família: Apoio e Preconceito

O preconceito, sobretudo o que começa na própria família, também continua sendo também uma das mais frequentes queixas entre os usuários como Alisson Jorge, que sentem na pele esta realidade.

“Nós somos muitas vezes jogados no manicômio pelas nossas famílias que não querem tomar conta de nós, porque acham que não somos responsáveis, mas temos que lutar por nossos direitos e cuidarmos de nós mesmos sozinhos, porque somos capazes de cuidar de nós mesmos.”, afirma Alisson.

Mas também há muitas familiares que apóiam os seus parentes que tem transtorno psíquico, como é o caso de Lívia, mãe de um usuário presente na Parada. “Acreditamos que a família ainda é mais de 60% do cuidado para o usuário de saúde mental”.

Festa!

Parada do Orgulho Louco é ato político, mas também é festa. De longe, é um das manifestações sociais mais divertidas da cidade. Com a banda Flores da Massa comandando o som, a Parada disponibilizou o microfone a usuários, familiares, profissionais e até artistas, como o vocalista da banda Pirigulino Babilake e a banda Sombra Sonora - presença constante no evento - que foram prestigiar o evento.

Para começar, pop rock e música popular brasileira para descontrair. Depois, a desinibição já dominava os presentes e mais ritmos e manifestações deram o tom: reggae, gospel, hip-hop. O vocalista da banda Pirigulino Babilake tocou Raul Seixas e alertou quanto a necessidade de se saber conviver e tolerar as diferenças. " É muito bom a gente entender que é preciso conviver com a diferença, entender que a sociedade é feita de todo tipo de gente, de todo tipo de pessoas e de todo tipo de pensamento. A gente tem que tolerar as diferenças e não tolerar a desigualdade, a desigualdade de tratamento".

Finalizando a Parada, os próprios usuários puxaram uma animada roda-de-samba, onde cantaram sambas populares e composições próprias, como o samba "Interditado não dá", que versa de forma bem-humorada sobre o próprio cotidiano.

Próximos eventos

Os eventos comemorativos do Dia da Luta Antimanicomial, em Salvador, seguem até amanhã (25), com o Ato pela Liberdade em Defesa da Luta Antimanicomial, a ser realizado no Plano Inclinado da Liberdade , às 14 horas, e o evento comemorativo no CAPS Aristides Novis, no Engenho Velho de Brotas, às 16 horas.