Artigo coletivo

Maria Helena Bonilla, Simone de Lucena Ferreira, Daisy Fonseca, Telma Brito Rocha, Alessandra de Assis Picanço

Segundo Trivinho (1999), com a emergência do ciberespaço ocorre a implosão da Teoria da Comunicação. Nessa teoria, as categorias – emissor, receptor, mensagem, canal, ruído, feedback, contexto, codificação – estão bem demarcadas, com características e funções definidas e demonstráveis empiricamente, de forma a satisfazer os critérios de cientificidade do discurso acadêmico. No entanto, no ciberespaço, essas categorias

perdem o caráter distinto, ora porque se imbricam, se sobrepõem ou se mesclam umas às outras, ora porque se ofuscam mutuamente, se auto-anulam e se desfiguram, com a agravante de que esse processo implosivo deixa de comprometer tão somente a natureza dos elementos básicos para deixar ainda em risco o próprio edifício esquemático sob o qual se finca a teoria. Comparecem aqui todas as características de uma era de confusão, expressão correspondente à fase atual da sociedade tecnológica (Trivinho, 1999:182-183)

O entrelace de características e funções dessas categorias elementares da comunicação refletem diretamente no campo educativo, uma vez que os sistemas educativo e comunicativo estão imbricados, ou seja, em nossa vida cotidiana utilizamos lógicas e linguagens variadas – sistema comunicativo – para interagir com os outros e com o mundo, o que culmina num processo de ressignificação desse mundo – processo educativo. Teríamos então, em decorrência da implosão da Teoria da Comunicação, também uma implosão da “Teoria Pedagógica” tradicional?

Por um lado, na prática pedagógica dos professores da escola básica, no geral, ainda não temos presenciado essa implosão. O que temos presenciado é um sentimento de que os métodos tradicionais não são mais suficientes para fundamentar os movimentos, desejos, relações e práticas contemporâneos. Por outro lado, temos presenciado a proposição de várias experiências, ainda pontuais, que procuram incorporar as características do ciberespaço e apontam para “novas educações”

Nessas experiências, o modelo comunicacional da transmissão de informações é substituído por dinâmicas interativas; as tradicionais funções do professor (emissor), aluno (receptor) e conteúdo (mensagem) tendem a imbricar-se; passa-se a utilizar uma multiplicidade de fontes e canais online, de forma que temos uma excessiva produção de signos-mensagem e produtos em circulação em rede, sendo que todos os sujeitos envolvidos passam a ser co-autores dos processos de aprendizagem. Ou seja, “na sala de aula interativa a aprendizagem se faz com a dialógica que associa emissão e recepção como pólos antagônicos e complementares na co-criação da comunicação e da aprendizagem” (Silva, 2000).

O desafio é alargar essas experiências de forma a que efetivamente provoquem a implosão dos modelos tradicionais?

A cibercultura traz novos defavios à educação. A cibercultura para Lemos (2003) é um tipo de cultura que emerge das tecnologias digitais e que está presente na sociedade contemporânea sendo vivenciada a todo o instante por meio de tvs a cabo e satélite, internet, palm, celular, caixas eletrônicos...

Contudo apesar de já estarmos na cibercultura pouco tem se discutido sobre seus limites e possibilidades. Em geral encontramos dois grupos de pessoas a classifica dentro de uma lógica pessimista ou otimista ou como sugere McLuhan? “apocalípticos e integrados”.

Lemos defini a cibercultura como a:

"forma sócio-cultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônica que surgiram com a convergência das telecomunicações com a informática na década de 70" (p. 12).

Leis da cibercultura:

1ª Lei da reconfiguração – evitar a lógica da substituição ou do aniquilamento

2ª Lei da liberação do pólo emissor – liberação das vozes e discursos reprimidos pelas mídias de massa. Esta liberação hoje ocorre na rede por meio dos e-mail, listas, chats, weblogs, comunidades virtuais, fóruns...

3ª Lei da Conectividade generalizada – transformação do PC em CC (computador conectado) e deste em CC móvel utilizando tecnologias wireless, GSM, Wi-fi ...

A questão da cultura na sociedade contemporânea..
(Título a ser pensado)

Na contemporaneidade, os computadores em rede são objetos que, culturalmente, influenciam a vida das pessoas que estabelecem relações através dessas máquinas. Entre os elementos tecnológicos, a Internet, especialmente, produz significativas alterações nas formas de conhecimento, de identidade, de relacionamento e comunicação.

Não sei se os computadores apenas influenciam a vida das pessoas. É preciso discutir melhor isso – eles surgem numa determinada cultura e possuem características que articulam outras formas de pensar, se relacionar, produzir... Ver o princípio da complexidade Ver - http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/cibercultura.pdf

Para evidenciar alguns aspectos sobre a cultura, optou-se inicialmente pontuar alguns aspectos teóricos referentes à cultura, em seguida busca-se estabelecer nexos da questão cultural via o uso da Internet enquanto a rede mundial de computadores.

Dada a dificuldade de se estabelecer um conceito de cultura em face da sua complexidade, adotou-se algumas referência sobre o mesmo .Inicia-se com a referência do conceito de cultura nas proposições de Raymond Williams (1969), que considera o termo cultura excepcionalmente complexo. Em seu trabalho Cultura & sociedade ele vincula a questão da cultura não apenas a questões exteriores, às grandes transformações, mas também num âmbito de experiência pessoal e privada, ele analisa a complexidade e as transformações do termo cultura [...] tendência de crescimento natural [cultivo de vegetais e criação de animais] e depois, por analogia, um processo de treinamento humano. Mas este último emprego, que implicava habitualmente cultura de alguma coisa, alterou-se no século dezenove, no sentido de cultura, como tal, bastante por si mesma. Veio a significar, no começo, ‘ um estado geral ou disposição do espírito cultivado”, em relação estreita com a idéia de perfeição humana. Depois passou a corresponder a estado geral de desenvolvimento intelectual no conjunto da sociedade. Mais tarde ainda no final do século, veio a indicar todo um sistema de vida no seu aspecto material, intelectual e espiritual. Veio a ser [...] palavra que freqüentemente [...] provoca hostilidade ou embaraço.(WILLIAMS, apud REALI 2001,52).

Assim , a cultura não deve ser pensada como uma abstração ou apenas um conceito mas ela só tem sentido se for explicitado a partir da interconexão entre contextos amplos e restritos. Outro aspecto existente na citação é a questão do espírito cultivado, que ainda se expressa na contemporaneidade, segundo o autor o termo cultivado é amplamente empregado como cultura que pode designar a perfeição máxima que alguém pode a. alcançar, explicita um com forte vinculo religioso. Depreende-se dessas proposições do autor um elo com a educação no sentido do desenvolvimento harmonioso das qualidades e faculdades que caracterizam o homem, carregada da noção se superioridade ou de melhor.

Outro autor que se debruçou sobre a cultura foi Jean-Claude Forquin (1993). Ele compreende a cultura como um conjunto de traços característicos do modo de vida de uma sociedade, de uma comunidade ou de um grupo, aí compreendidos os aspectos que podem ser considerados como cotidianos, os mais triviais, ou os mais inconfessáveis, (1993, p. 62) . A questão cultural pressupõe uma relação entre sujeitos. Nessa relação, ensina-se e se aprende a transmitir determinados conteúdos, que podem ser fixos ou mutáveis, através de valores, crenças e conhecimentos. Tais aspectos viabilizam a existência da diversidade cultural. Desse modo, pode-se inferir que cultura e comunicação são íntimas e reciprocamente relacionadas.

No conceito de cultura elaborado por Forquin (1993, pp. 68-70), um dos traços característicos da cultura reside no modo de vida de uma determinada sociedade e/ou comunidade. Isso reforça a idéia de que, face às demandas da contemporaneidade, a intensificação dos meios telemáticos propicia algo que, historicamente, sempre foi estruturante na vida dos homens como animal gregário.

Para Forquin (1993), na perspectiva antropológica há uma ampliação do conceito de

[...] cultura que passa a ser entendida como um conjunto de traços característicos do modo de vida de uma sociedade, de uma comunidade ou de um grupo, aí compreendido os aspectos que podem ser considerados como cotidianos, os mais triviais, ou os mais inconfessáveis (FORQUIN1993,p.11´).

Essa concepção representa uma cisão na concepção de cultura, trazendo, para esta, elementos até então não mencionados como o cotidiano das pessoas.

Nessa perspectiva de ampliação e incorporação dos elementos de cotidiano ao conceito de cultura a autora Marilena Chauí (1993), propõe:

[...] a criação coletiva de representação, valores, símbolos e prática que determinam para uma coletividade suas formas de relação como o espaço, o tempo, a natureza e os outros homens, definindo o sagrado e o profano, o necessário e o possível, o contraditório e o impossível, o justo e o injusto, o verdadeiro e o falso, o belo e o feio, o legítimo e o ilegítimo, o nós e o eles.

Nessa compreensão antropológica da cultura emerge elementos e situações que valorizam o fazer cotidiano das pessoas, situando-as como sujeito, que produzem valores, hábitos, crenças, atitudes e expressam opiniões elaboradas ou não, que se misturam a outras formas culturais e expressam o modo de vida dessas pessoas. No movimento de manter e mudar as práticas cotidianas.

Com essa compreensão de cultura cabe indagar como situar as transformações ocorridas no final do século passado frente a expansão tecnológica? De acordo com as proposições de Castells (1999), esse é um evento histórico da mesma importância da revolução industrial do século XVIII induzindo um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, sociedade e cultura. Diferentemente de qualquer outra revolução, o cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual, refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação. O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para geração de conhecimentos e de dispositivos e de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso. No cenário contemporâneo, o avanço tecnológico permite a emergência da união das telecomunicações à informática, vindo a propiciar a disseminação da World Wide Web. A WWW pode também ser compreendida como uma inovadora experiência econômica, social e cultural, através da qual é possível construir infinitas possibilidades. Essas possibilidades segundo Castells (1999) se viabiliza na Internet, esta se constitui a coluna vertebral da comunicação mediada por computadores, Assim.

A história do desenvolvimento da Internet e da convergência de outras redes de comunicação para a grande rede fornece material essencial para o entendimento das características técnicas organizacionais e culturais dessa rede, assim abrindo o caminho para a avaliação de seus impactos sociais. (CASTELLS:375.) [...] a tecnologia digital permitiu a compactação de todos os tipos de mensagens, inclusive som, imagens e dados, formou-se uma rede capaz de comunicar todas as espécies de símbolos sem uso de centros de controle (CASTELLS:375) [...] a Internet se expandirá como ágora eletrônica global, com sua inevitável dose de desvios psicológicos (CASTELLS:381).

(OBS: como é um texto para estudo deixei as páginas na citação para facilitar a discussão).

Desse modo a rede mundial de computadores diversifica e propicia uma grande fusão, ou seja , a multimídia amplia a comunicação eletrônica para todo o domínio da vida: de casa, do trabalho, de escolas de hospitais, de lazer e outros. Ainda apoiando-se nas teses de Castells (1999), ele analisa o sistema multimídia sobre as condições efetivas nos diferentes paises, do significado cultural que o sistema provoca profundamente modificações nas características e na trajetória como a tecnologia se inseriu naquela cultura. Pontua que a característica mais importante da multimídia é que ela capta em seu domínio a maioria das expressões culturais em toda a sua diversidade. Nesse advento da multimídia ele observa

[...] seu advento é equivalente ao fim da separação e ate da distinção entre mídia audiovisual e mídia impressa, cultura popular e cultura erudita, entretenimento e informação, educação e persuasão. Todas as expressões culturais, da pior á melhor, da mais elitista a mais popular, vêm juntas nesse universo digital que liga, em um supertexto histórico gigantesco, as manifestações, passadas e futuras da mente comunicativa. Com isso, elas constroem um novo ambiente simbólico, (CASTELLS:394). Grifos nossos.

Essas reflexões em torno das questões aqui tratadas nos remetem a discussão sobre o virtual e o real, que em conformidade com Manuel Castells mediante a utilização do dicionário, informa - o virtual consiste no que existe na prática, embora não estrita ou nominalmente, e o real - o que existe de fato. Com isso procura demonstrar que na verdade não existe muita diferença entre real e virtual e a influência de um sobre o outro. Acho complicada essa relação, precisamos avançar nisso

[...] o que é um sistema de comunicação que, ao contrario da experiência histórica anterior, gera a virtualidade real? É um sistema em que a própria realidade (ou seja, a experiência simbólica/material das pessoas) é inteiramente captada, totalmente imersa em uma composição de imagens virtuais no mundo do faz-de-conta, no qual as aparências não apenas se encontram na tela comunicadora da experiência, mas se transformam na experiência, (CASTELLS :395).

Destaca como característica - o novo sistema de comunicação, pautado na integração em rede digitalizada de múltiplos modos de comunicação, e sua capacidade de inclusão e abrangência de todas as expressões culturais.

O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, aonde o faz-de-conta vai se tornando realidade,(CASTELLS:398).

Em consonância com as proposições de Castells (1999), esse sistema de comunicação altera a noção e concepção de espaço e o tempo, as dimensões fundamentais da vida humana. Propicia que localidades não fiquem sem o seu sentido cultural, histórico e geográfico pois, estas se reiteram em redes funcionais que possibilitam a inclusão das suas imagens que ocasiona um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares O tempo é ressignificado em razão do novo sistema de comunicação no qual passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si, na mesma mensagem,.

Portanto, as discussões aqui iniciadas não foram finalizadas e várias e diversos elementos devem ser acrescidos ao texto, ele é um estudo preliminar sobre o tema para ser reconstruído. REFERÊNCIAS CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CHAUÍ, Marilena. Cultura e racismo. Princípios, São Paulo: Ática, n.29 maio/jul.1993. FORQUIN, Jean-Claude. Escola e Cultura: bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. REALI, Noeli Gemelli. Ouvidos dominantes vozes silenciadas: a presença:ausência dos migrantes rurais no currículo escolar urbano. Chapecó: Argos, 2001 WILLIAMS, Raymond. Cultura e sociedade: 1780-1950. São Paulo: Companhia Editora nacional, 1696. (coloquei esta fonte, porém no texto ela não foi usada diretamente do autor.)

Referências:

BONILLA, Maria Helena; PICANÇO, Alessandra Assis. Tecnologia e Novas Educações. In: II Colóquio Luso-brasileiro sobre questões curriculares, 2004, Rio de Janeiro: UERJ. p. 3473-3488.

LEMOS, André. Cibercultura. Alguns pontos para compreender a nossa época. In: LEMOS, André e CUNHA, Paulo (orgs.). Olhares sobre a cibercultura. Porto Algre: Solunas, 2003.

SILVA, Marco. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.

TRIVINHO, Eugênio. Epistemologia em ruínas: a implosão da Teoria da Comunicação na experiência do ciberespaço. In: F. M. MARTINS, J. M. d. SILVA (org.). Para navegar no século XXI. Porto Alegre: Sulina; Edipucrs, 1999. p. 179-192.

-- MariaHelenaBonilla - 14 Jan 2005

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